Faixa a Faixa: “Canções de Apartamento”

cícero

Nossa relação com Cícero começou quando vimos em julho de 2011 o clipe de Tempo de Pipa. Ao invés de só resenharmos como fazemos sempre, fomos atrás do cara pra saber um pouco mais do vídeo, e foi daí que surgiu nosso primeiro contato com Canções de Apartamento, álbum que ele tinha lançado um mês antes e ganhava elogios e indicações por onde passava. Por aqui, não foi diferente.

Ao longo do tempo, continuamos cada vez mais atentos aos passos do músico e, na hora de escolher os destaques do ano, seu nome foi um dos mais lembrados por nossa equipe e o resultado foi uma das melhores entrevistas que já publicamos no site. Não tínhamos dúvidas da sensibilidade e talento do cara, mas a certeza e a admiração só cresceu depois de suas palavras.

Mais do que isso, as músicas que ele gravou em seu apartamento falam alto pra muitos de nós. Por isso, o aniversário de dois anos do disco merece ser lembrado por aqui. Reunimos dez de nossos pavezeiros, cada um com uma relação diferente com a obra do músico (do “acabei de conhecer” ao “ouço há dois anos sem parar”) para montarmos um panorama do que o álbum comunica, faixa a faixa.

1. Tempo de Pipa

“Mas tudo bem/o dia vai raiar/pra gente se inventar de novo”.  O otimismo abre o álbum de Cícero. Depois de várias perguntas, promessas e um pouco de conformismo, a música deixa claro que algumas coisas são passageiras, pois “o mundo vai nascer de novo”. O ritmo calmo e a voz suave do músico deixam claro que não é necessário nenhum desespero, que ficará tudo bem. (Marcel Marques)

2. Vagalumes Cegos

Pra começar: na minha opinião, é uma das músicas brasileiras mais bonitas. Não sei se por ser paulista, mas sempre encaixo a letra ao cotidiano de SP. Cícero, com seu jeito romântico, conseguiu expressar como é viver nessa cidade maluca e faz um convite. Um convite para aproveitarmos mais a vida, as pessoas, aproveitar o que temos em nossa volta e não damos valor na correria do dia a dia. (Gui Moraes)

3. Cecília e os Balões

Pra colorir o que for, escolha seu tom com firmeza. Agarre-se a ele, que a vida te traz outras cores. (Anna Rinaldi)

4. João e o Pé de Feijão

Ouvi Cícero de repente, quase sem querer, não lembro ao certo como foi, mas sei que aquela voz, que dizia as palavras soltas mais poéticas e palpáveis no que diz respeito ao meu cotidiano, ficou tempos em tempos no meu iPod e certamente se fixou como a trilha sonora do meu ano passado. João e o Pé de Feijão é apenas uma demonstração da força desse cantor, que parece encaixar as palavras de um forma tão bonita e singela, dando gosto de ouvir mais de uma vez. Nessa faixa em questão, o verso “Ainda não fazem pessoas de algodão” arrepia. (Rômulo Mendes)

5. Ensaio sobre Ela

Uma simples declaração de amor. Ensaio Sobre Ela é aquela faixa melancólica que todo mundo vai acabar gostando e cantando para um futuro alguém. A música transmite uma certa vibe aconchegante e amorosa com o som leve da chuva durante a música, dando a impressão de que estamos dentro de uma casa com a pessoa que amamos, conversando e “enfrentando um domingo” juntos. (Carolina Reis)

6. Açúcar ou Adoçante?

Escondida em uma melodia suave, está uma letra amarga com dores de rejeição. Os sussurros ao pé do ouvido da canção ambientada pelo silêncio deixam no ar uma atmosfera sufocante, quebrada apenas pelas batidas pesadas do refrão, que explodem sentimentos reprimidos em repetitivas conclusões. De doce, Açúcar ou Adoçante? não tem quase nada e passa longe de um convite amistoso para o café, ainda que apaixonante. (Cristiano Hackl)

7. Eu Não Tenho um Barco, Disse a Árvore

O que já está na mão nos parece ser o conquistado, o posto à mesa, o que já não mais precisa de atenção, somente de usufruto, como uma degustação. As coisas, as pessoas, os sentimentos são providos de liberdade. Uma liberdade difícil de perceber, pois vive mesmo quando se pensa que a temos – a dos outros – nas mãos. Não, não temos e ela, o meu amor, os amores, os desejos, todos se foram. Eu fiquei. (Dom de Oliveira)

8. Laiá Laiá

O suspense de um carnaval, a batida que fica à espera e transforma-se em ciranda de criança crescida. A cantoria mofada e triste de uma marchinha envelhecida, mas nova. Uma tristeza que é também esperança de um sorriso passando pela avenida. A dança que é rodar mais do que um passo marcado. O passado que é um mantra para guardar de cor. Um laiá laiá que diz mais que uma frase pensada. Uma roda interrompida. (Mariana Martins)

9. Pelo Interfone

“Ah, Dindi, se tu soubesse como machuca, não amaria mais ninguém”. O problema de um relacionamento ser eterno só enquanto durar é o saldo perpétuo em quem amou. Romper é difícil, mas pior ainda é viver sem. Ensinar alguém como fazer isso requer sensibilidade, voz baixa e olho no olho. É um convite à última chance de verbalizar “o que nunca falou pra ninguém, pra ele também”, mas também um lamento pela situação que ali se inicia. “Se tu soubesse como machuca, não contaria pra ninguém”. (André Felipe de Medeiros)

10. Ponto Cego

O poeta contemporâneo carioca parece ter escolhido de propósito Ponto Cego pra encerrar o disco, afinal, para o músico, parece que as dores do mundo se encerram numa sexta-feira. O título é bastante sugestivo para nós, acostumados a matar um leão por dia de segunda à quinta, num ritmo de vida acelerado, de pontos cegos em nossos retrovisores parados nos congestionamentos das grandes metrópoles, sem saber dar valor aos pequenos prazeres da vida movida a mil. Mas quem se importa com tudo isso? Afinal, para nosso alívio, “é sexta-feira, amor” e o sofrimento acabou, é o fim de um ciclo, um ritual de passagem para as poucas 48 horas de descanso que clamamos quase que todos os dias. Pelo menos até domingo, segundo Cícero, nossas mentes deverão se acalmar. (Matheus Pinheiro)

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