Amor Existe Se Existir Também Música

Tem gente por aí dizendo que não existe amor em São Paulo. Que não tem lugar para amor onde existe concreto por todos os lados: no chão de cimento ou asfalto só se vê cinza. Eu discordo. Discordo dessa verdade que não é bem verdade enquanto houver música em São Paulo, ou na cidade que for. Enquanto as ruas puderem se encher de gente cantando, que venham quantos quiserem dizendo que não existe amor e eu retrucarei veementemente que há.

Na voz de Vanessa e das cinquenta mil pessoas que ela esperou chegar ao seu show no Parque da Cidade, só pode haver amor. Que Tom Jobim não sai da voz de ninguém se não for com imenso amor. Chega de Saudade! Eu acho mais é que essa sensação de ódio que nós temos da cidade não passa de uma nostalgia tímida que se aloja no peito até o momento em que somos seduzidos por uma voz maravilhosa, seguida pela voz de milhares.

Que prova maior de que existe amor em São Paulo do que as ruas do centro cheias de gente alegre transbordando em diversos estilos musicais o prazer de viver essa cidade, que é sim maravilhosa e cheia de um amor duro e concreto. Mas amor. E amor não se joga fora nem que ele venha tímido e discreto.

Quem faz a cidade cheia de amor é a música. As pessoas a perseguem, a cercam, a englobam, trazem para dentro do peito, devoram e depois extrapolam tudo que ela lhes dá numa uníssona combinação de vozes ainda mais forte.

Ora! Se trata de uma constatação banal. Sempre que há música, as pessoas se juntam, se unem, viram outras pessoas, um desenlaço musical.

Se ainda há o que cantar, há amor. Que tome as ruas sempre, parques, praças, os pontos de ônibus e o metrô. Vivo cantarolando. Já é um hábito. Um dia desses você, quem sabe, não me acompanha?

Tom Zé – São São Paulo