Faixa a Faixa – “Random Access Memories”
Ficou nas mãos de Daft Punk a responsabilidade de fazer o disco mais aguardado e comentado do ano, um trabalho que reuniu diversos produtores e estrelas do mundo da música para ajudar a dar uma nova cara à música eletrônica.
Random Access Memories é surpreendentemente melódico e nostálgico, mas não se esquece de fazer sua parte para abastecer pistas de dança ao redor do globo. Para te dar uma nova perspectiva do álbum, reunimos diferentes mentes por trás do Música Pavê para, cada um com seu jeitinho, dar seu pitaco em uma faixa e te ajudar na sua conclusão sobre o todo.
1. Give Life Back to Music
A faixa de abertura propõe ao ouvinte que se abra para a música. Como se preparasse seu espírito para ser receptivo ao disco e deixar que ele o conduza nessa experiência. Ao mesmo tempo, reivindica “por vida” na música, dando a impressão de que o grupo toma para si essa responsabilidade. Give Life Back To Music tem presente elementos marcantes de soul e disco music, que remetem aos anos 70 e 80, quebra fortes de bateria e o vocal robótico, característica reconhecida da dupla francesa. (May Barbosa)
2. The Game of Love
Uma canção triste com som semelhante às músicas sobre heartbreak dos anos 70 ou 80. Com ritmo um pouco mais lento e letra repetitiva, ela não se destaca entra as outras faixas do álbum – o que não significa que a música não seja boa! (Carolina Reis)
3. Giorgio by Moroder
Uma musiquinha ao vivo que vira um groove bacana serve de fundo para a locução autobiográfica de um dos produtores essenciais da música eletrônica. Quando a homenagem começa a ficar cansativa e você se pergunta se falta muito pra acabar a faixa, eis que a música propriamente dita surge e você tenta acompanhar a viagem e consequente explosão sonora que ela proporciona. O que fica ao final é uma sensação de “uau” que poucos discos conseguem proporcionar. (André Felipe de Medeiros)
4. Within
A mais lentinha do álbum, e também a mais bonita. Não é só uma baladinha que cumpre tabela: a música é um pedido de socorro e tem instrumentais lindíssimos, em contraste com o vocal totalmente robotizado. (Mari Mauerwerk)
5. Instant Crush
Aquele sentimento de que nada mais importa além do mínimo segundo de um cruzar de olhos que não pode ser eterno. Uma infinidade de pensamentos e sensações cruzam a mente num piscar de olhos. Quando o segundo passa, deixa para traz apenas a nostalgia daquele momento. Sem saber para que lado correr, a única sensação que fica é a do déjà vu de uma paixão instantânea. (Mariana Martins)
6. Lose Yourself to Dance
Como todo o disco, nada surpreendente, mas extremamente competente, a faixa tem a mesma fórmula que a tão hypada Get Lucky. Um solo de guitarra viciante e repetitivo, uma batida de fundo (que aqui vem mais presente), o vocal agudo e suave de Pharrell Williams e o vocal sintetizado tão característico da dupla. A faixa tem um potencial curioso, pois, ao mesmo tempo que não soa tão apelativa quanto sua “irmã”, ela serve como um ótima companhia para a pista. (Rafael Rautha)
7. Touch
Se uma faixa pudesse transmitir toda a euforia de um toque, seria esta. Entre variações de ritmos e melodias, é possível caminhar por épocas, temperaturas e vibrações de diferentes contatos na pele. Os primeiros minutos funcionam como uma viagem no tempo que nos leva para um ritmo mais oitentista, com um quê latino e termina com algo mais intimista, apenas piano e voz, praticamente implorando por um simples toque. (Marcel Marques)
8. Get Lucky
Eu sempre gostei mais de textos que passavam longe da técnica e seguiam um caminho abstrato, longe do convencional, que nos imprimisse de verdade o que aquele indivíduo sentiu ao se permitir alguns minutos do seu dia para escrever sobre determinada coisa. E a música acompanha esse laço, já que da ideia temos a materialização sonora e, sendo assim, o seu percurso está aquém do seu realizador, se tornando plural para ser interpretada de acordo com a história de cada indivíduo. Mesmo que essa visão, para alguns, possa estar rodeada de clichês. Get Lucky, ao que parece, é o grande fio condutor da nova fase do grupo. Com a participação do cantor e produtor Pharrell Williams e do também produtor e guitarrista Nile Rogers (e vou me restringir a essas informações técnicas) o hit traz de volta o brilho da era da discoteca. Porém, mais do que isso, acho que essa canção representa um convite para desorganizar na pista, se reinventar na vida, dançar, escrever sobre essa canção se desprendendo de falar nitidamente sobre ela. Tentando inserir na escrita o sensorial que a sonoridade provoca ao ouvi-la. E ela provoca, me deixa vivo, me mostra que posso ser mais do que outros dizem que eu sou. Viagem? Não. Daft Punk provoca isso. (Rômulo Mendes)
9. Beyond
De uma abertura épica, com cara de começo de filme de ação, segue uma música simpática de tudo, animada e com batidas na medida certa. O vocal podia ter menos efeitos, mas lá pelo meio melhora, pode acreditar. (Mari Mauerwerk)
10. Motherboard
Essa faixa é uma viagem por diferentes sons e ritmos. Uma experiência auditiva pura! Você nem vai se perguntar “E a letra?”. Impossível não se perder enquanto ouve os violinos, as flautas e as batidas diferentes na bateria. Seu ritmo jazzie e groovie contagia qualquer um. (Carolina Reis)
11. Fragments of Time
A décima primeira faixa do disco, seguindo a linha de inúmeras colaborações, conta com a voz do produtor norte americano de house Todd Edwards. A faixa flerta diretamente com as canções do soft rock oitentista, estilo que consagrou artistas como Phil Collins e Hall & Oates, só que uma dose boa de suingue. A instrumentação real (feita com guitarras, baixo e bateria acústica) impecável dá espaço para a clássica guitarra eletrônica tão presente nas músicas do aclamado álbum Discovery, lançado pela dupla francesa em 2002, que continha hits como One More Time e Digital Love. A canção Fragments Of Time não poderia ser mais sugestiva: é a mais nostálgica do disco, contendo justamente fragmentos do que o Daft Punk foi no passado e suas novas abordagens feitas no presente em Random Access Memories. (Matheus Pinheiro)
12. Doin’ It Right
Quase escondida no fim do álbum, Doin’ it Right é uma deliciosa surpresa em formato de looping. Os ciclos da canção desvendam pequenas alterações em melodias ascendentes, quase fofas e que, ao meu ver, meio que refutam a possibilidade de “refazer, recriar, reviver” situações da vida de um jeito novo, do jeito certo. A faixa é brilhantemente interpretada por Noah Lennox, do Panda Bear, também vocalista do Animal Collective. Tá bom pra você? (Cristiano Hackl)
13. Contact
Os primeiros 15 segundos de Contact me lembraram demais a pegada do M83. Ambos, assim como muitos, beberam da mesma fonte: teclados intergalácticos dos anos 80 e sci-fi movies dos anos 70. Mas, logo depois do sample com uma gravação de rádio originalmente narrada por Eugene Cernam, que descreve o avistamento de um UFO durante a missão Apollo 17, a faixa destinada a encerrar o álbum alcança o mesmo impacto de uma colisão espacial. “I don’t know whether that does you any good, but there’s something out there”. (Cristiano Hackl)
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