Fim de Feira e o Preso 137

Duas espaçonaves rondam o planeta terra, serem fantásticos tramam planos e conversam lá dentro numa linguagem espacial incompreensível. Adentrando a nave, em consciência expandida, percebe-se que suas formas, conteúdo e energia fazem parte de nada que daquilo conhecemos ou entendemos, levando em consideração nossas limitações humanas e as físicas de nosso pequeno planeta. Descem, ó espaçonaves, dos céus à terra. Aparecem os seres fantásticos em meio à multidão, em época desconhecida. São tido como deuses. Constroem templos e catedrais imensas. Povoam o imaginário dos terráqueos. Os seres nos dão de comer e ensinam a ver e acreditar. No mesmo instante que aparecem, somem. Zás! Fazendo a história oral de suas aparições nada mais que algo esquecido no passado. Traduzido hoje em ruínas de templos e catedrais imensas.

A atmosfera do parágrafo anterior é imaginária, mas eis que agora surge, de Pernambuco, a banda Fim de Feira. Questionando, fomentando o questionar, perguntando porquês e descendo a bronca no errado. E por que tanta coisa errada neste mundo?

É a Preso 137, divulgação primeira do novo álbum do grupo, De Todo Jeito a Gente Apanha, segundo trabalho a ser lançado pelos pernambucanos. A participação do locutor Rodrigo Leone dá uma atmosfera dramática de filme B. Opa! Já começou interessante. A letra inicia relatando uma rebelião no maior complexo carcerário do sistema solar, em Plutão. A metáfora funciona, o espaço sideral é aqui. Os problemas terrestres mais parecem intergalácticos, com soluções complexas e distantes demais para serem resolvidas em um planeta azul tão pequeno. Ou seria por mentes tão pequenas, cheias de individualismo e cegas de poder? Provavelmente. No entanto, o que percebemos é a necessidade urgente de refletir, pensar, observar e agir. Ter uma posição crítica em relação ao nosso redor, aos nossos governantes, aos nossos atos. Se viver em um país com exemplos claros e pavorosos de corrupção não é fácil, mais difícil é calar. Anda a canção. Quando o rapper Zé Brown chega em voz raivosa, coloca mais um peso em nossa consciência. Peso de exemplos reais de história corrupta brasileira. Tudo é sério. E tudo é bem humorado. Esta mistura antagônica forma uma vertente poética interessante e é o que faz deste segundo disco uma promessa real, atual, de agora. É a primeira, somente. Esperamos ávidos por ouvir todas as faixas restantes. É esperar. E, já aqui na terra, pé firme no chão.

Surgido em 2004, na efervescente cena musical pernambucana, o Fim de Feira nasceu com o objetivo de conciliar tradição e modernidade, contemplando tanto a cultura dos meio rurais quanto a realidade artística dos grandes centros urbanos. Os trabalhos autorais apostam numa variação de ritmos que vão do baião ao carimbó, passando pelo coco, forró, maxixe e cantigas de viola, além da constante presença da poesia de cordel.

A junção de música e poesia, atrelada a uma presença de palco cativante, fez com que o Fim de Feira se firmasse como um dos mais promissores grupos musicais da nova geração pernambucana, participando, ao longo dos últimos anos, de festivais pelo Brasil, Europa e Caribe, com shows aclamados pela crítica e pelo público.

Vale a pena esperar. Conheça mais da Fim de Feira em seu site oficial.

(Conheça também mais do trabalho do autor do texto, Dom de Oliveira)

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