Por Dentro de “Nescafé”, da Apanhador Só

Dos videoclipes que resenhamos nos seis primeiros meses de 2012, Nescafé talvez tenha sido aquele que mais encheu os olhos com uma resposta emocional mista do público, que consegue sorrir e chorar na mesma proporção com os muitos lindos planos embalados pela canção da Apanhador Só. Não à toa, foi o apontado pelo público como o melhor clipe do semestre.

Como escrevi quando resenhei o vídeo, em abril, ele traz lembranças de histórias passadas (ou saudades de romances nunca acontecidos) que o personagem interpretado pelo músico Ian Ramil (co-autor da música) ao longo de uma noite em claro. A ideia foi do diretor estreante Bruno Carboni, colega de classe de Alexandre Kumpinski (vocal e guitarra da Apanhador) na faculdade – e foi ele mesmo quem o convidou, dizendo que pensava em algo subjetivo para a canção, sem necessariamente ser algo que traduzisse literalmente seus versos.

“Ao ouvir a música durante o processo de criação, não conseguia encaixar a imagem da banda tocando junto com a letra”, conta Carboni, “o que me vinha em mente eram as cenas de relacionamento que a música sugere, que, por mais que quisesse fugir, ainda achava ser sua essência. Busquei então elementos que penso bastante no processo de edição: como as elipses de tempo e o fluxo de consciência (ligação entre memórias, sentimentos e lembranças sem conexão lógica aparente) funcionam e como ajudam a construir uma narrativa”. Ele nos disse também que pôde contar desde o início com Antonio Ternura (o diretor de fotografia) e Roberta Sant’Anna (que fez assistência de direção, produção e atuou no clipe).

“O que eu mais gosto em Nescafé deve ser essa qualidade atmosférica puramente fotográfica que nos dá a sensação de nostalgia/saudade/lembrança”, nos contou Roberta. “Como fotógrafa, ‘memória’ é um dos meus temas preferidos e é através de atmosferas bem particulares que reconheço o poder imagético que ela pode evocar. Acho que isso está muito bem construído no clipe”, afirma ela.

O diretor explica que imaginou que cada verso da canção poderia ser para uma mulher diferente em lembranças “em princípio desconexas, mas unidas por sentimentos efêmeros, nos quais já não se distingue uma memória verídica de algo idealizado”. Com isso em mente, foram pensadas situações diversas “em momentos ora íntimos, ora banais” (nas palavras de Carboni) vividos por cinco atrizes diferentes, sendo uma delas a própria Roberta. Ela nos disse que para “algumas situações ali (e algumas que não entraram), era mais fácil alguém de dentro da equipe topar fazer, pois o tipo de entrega é um pouco diferente”. Sobre a experiência de atuar, ela conta que foi ótimo. “Tô sempre atrás da câmera. Ir pra frente mexe um pouco com a vaidade e isso é legal às vezes”.

Quem também se recorda com carinho da experiência de gravar o clipe é Antonio Ternura: “O que eu mais curti no clipe foi o processo, trabalhar o ritmo das gravações em sincronia aos estímulos de cada cena, assim nos divertimos mais do que trabalhamos”, conta ele. Quando perguntado sobre se belíssimo trabalho de direção de fotografia, ele apenas respondeu humildemente que é tudo “muito simples”.

A real é que você só não fica de queixo caído ao assistir a Nescafé quando sua estrutura facial está ocupada esboçando sorrisos, tamanha é a beleza das sequências que eles criaram em perfeita sincronia com a belíssima canção do quarteto. “Acho que, no fim, o clipe ficou fiel à ideia original”, conclui Carboni, “a música e a imagem podem trabalhar separados, mas juntos criam um sentido novo para ambos se os conceitos forem bem trabalhados”. Nós não poderíamos concordar mais.

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