Uma Noite com Nick Carter (Backstreet Boys)

O palco iluminado sem nenhum músico, começa a tocar o inconfundível início de Backstreet’s Back e o público, no maior dos clichês, “vai ao delírio”. Baterista, tecladista e guitarrista assumem suas posições e começam a tocar por cima do playback, enquanto a voz de fora do palco inicia a letra até o cantor surgir pulando no verso “Backstreet’s back, alright”. Foi curioso notar como o momento mais emblemático do show que ele fez em São Paulo (Tropical Butantã, 08 de setembro) foi esse, o retorno para o bis, não a uma hora e pouco anterior. O que ele simbolizava era o que todos já sabiam: Nick Carter só estava ali pelo que conquistou com Backstreet Boys.

Com início às 19h em ponto (um horário curiosamente cedo para um sábado à noite), a apresentação misturou músicas de seus três álbuns solo com algumas menções a hits consagrados (Elton John e seu Rocket Man, Rick Springfield com Jessie’s Girl e In the Air Tonight, de Phil Collins), além de muitas músicas de seu trabalho com a boy band – mas muitas mesmo, sendo elas oito das vinte faixas tocadas. Nick viaja com formação de banda, acompanhado de outros três músicos que alternam instrumentos e vocais de apoio dentro de uma estética muito específica de um pop rock festivo, com cara de Sessão da Tarde, sendo ele um personagem com ecos de um John Travolta em Grease.

Ele diz estar resfriado, mas impressiona como ele carrega bem o show em voz e em energia. Ele puxa palmas no meio das músicas, rebola com a guitarra na beira do palco e sorri dos gritos que arranca. Entre um sucesso e outro, Carter conversa com a plateia falando de “bundas” (em bom português), convidando o pessoal para curtir a noite e hypando cada segundo, como se fosse um animador de festa, ou de torcida. Aos 38 anos, ele exibe um olhar de moleque tão sacana quanto frágil, tudo parte de um certo jogo de sedução cheio de pequenas promessas vazias que ele estabelece com o público, como quando diz que, se dependesse dele, ele nunca iria embora do Brasil. Em uma música, ele simula movimentos sexuais e, na outra, exibe uma migalha de sensibilidade ao cantar uma balada romântica – o que parece suficiente para compensar o cafajestismo.

O público, majoritariamente na casa dos 25-35 anos, parece ou ignorar o quanto pode ser problemático celebrar um comportamento desses, ou está muito mergulhado na nostalgia para questionar o que está sendo apresentado. E raramente vemos pessoas tão investidas em curtir um show como foi nesse caso. Todos dançavam com vontade até mesmo nos momentos instrumentais, quando Nick saía do palco, e respondiam positivamente a todos os pedidos do músico. Com a chance de cantar a plenos pulmões as músicas ouvidas por vinte anos e ter um contato tão próximo com o ídolo da adolescência, o valor do ingresso valeu certamente cada centavo.

Mais do que um show, o que Nick Carter apresentou foi um espetáculo da cultura pop. Foi uma grande celebração de uma juventude que teima em não acabar ao som de As Long as You Love MeLarger than Life iluminada por um mar de telas de celulares que captavam cada segundo do músico, com ou sem sua guitarra, com ou sem pose de boy band, sendo safado ou sendo romântico. Por aquela uma hora e meia, mesmo quem era fã de Backstreet Boys percebeu que os outros quatro não fizeram falta.

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