Taylor Swift sem Lacunas

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(Curta mais da série 2014 Define no Música Pavê)

Não dá pra dizer que a gente não viu chegando. Taylor Swift podia até ter um relacionamento sério com o country desde seu primeiro disco, mas sempre flertou com o pop. Deu no que deu: o maior fenômeno do mercado da música em 2014 e pontos extras pela ousadia. A menina Taylor cresceu.

E fez isso na frente das câmeras. Amadurecer sob as duras vistas do público pode ser um processo doloroso, mas ela parece ter se saído bem transformando seus desamores em cifrões. De lá para cá, cada disco representou um pequeno degrau em direção à pop star que ela se tornaria definitivamente esse ano, com o lançamento de 1989.

O álbum chegou cheio de expectativas e singles em potencial – muitos deles, canções que celebram um novo momento na vida da cantora. Welcome to New York abre o disco em tom esperançoso, de puro encantamento pela cidade onde escolheu morar. I Know Places fala de um novo amor, mas também que Taylor não é mais a mesma adolescente de cabelos cacheados que conhecemos há oito anos. Blank Space é um perigoso jogo amoroso e Shake it off dá uma bela banana para os críticos de plantão.

É bem provável que essas temáticas passassem longe de seu primeiro disco, lançado em 2006, mas já naquela época a cantora era elogiada pela maturidade que demonstrava aos 17, cantando as músicas que compunha desde os 12. As influências de nomes do country – entre eles LeAnn Rimes, Faith Hill, Dolly Parton e Dixie Chicks – eram tão notórias que uma das músicas do disco se chamava Tim McGraw.

Fearless, seu segundo disco, já chegou com muito mais presença. Estreou de cara no primeiro lugar da Billboard, rendeu oito indicações ao Grammy e manteve a fama de Swift como a garota prodígio que era. Se o primeiro trabalho a apresentava ao público, neste ela se tornou muito mais segura em suas composições – talvez daí o nome do álbum. Aqui ela já admite que a vida não é um conto de fadas ou Hollywood, mas ainda assim canta histórias de amor ao longo de boa parte das canções. É um disco de melodias doces, mas que já dialogam com o pop em meio às raízes country nas batidas do violão, especialmente em You Belong With Me.

Speak Now trouxe Taylor cada vez mais para o lado pop da força. O violão deu lugar à guitarra em muitos momentos, como em Mine, Sparks Fly, Better than Revenge e The Story of us. As letras cada vez mais confessionais revelavam nas entrelinhas detalhes sobre os relacionamentos da cantora e mostravam uma independência cada vez maior para criar e evoluir.

Red veio para confirmar isso. Do começo ao fim, o álbum está recheado de canções pop e melodias dançantes. State of Grace, I Knew You Were Trouble, 22 e We Are Never Ever Getting Back Together são apenas algumas das mais memoráveis músicas do disco. Nas baladas, o som que revelou Taylor anos antes volta a aparecer, mas cada vez mais diluído em uma sonoridade muito mais encorpada. Os refrões são mais fortes, as letras mais pungentes e as levadas ajudam a construir uma identidade própria para o álbum – do tipo que coloca as influências em segundo plano e traz à frente uma artista em plena construção de uma linguagem própria.

Por mais surpreendente que 1989 tenha sido – em volume de vendas, em recepção da crítica especializada, em ignorar o Spotify -, não dá para dizer que foi inesperado. Todos os sinais de uma cantora pop já estavam quase completamente delineados em seu álbum anterior e se formando em todos os lançados antes dele.

O que o novo disco evidenciou foi seu crescimento como compositora – com letras mais ousadas e menos previsíveis -, sua coragem em largar o instrumento e dançar, mas principalmente trouxe de volta à tona a boa e velha discussão sobre o valor da música como bem de consumo e se é que já se pode colocar os pregos no caixão da moribunda dona Indústria Fonográfica quando se vende 1 milhão de cópias em uma semana.

De quebra, fez muita gente confrontar os próprios preconceitos e perceber que a música pop está muito bem, obrigado, enquanto saía na capa da Time, levava mais umas indicações ao Grammy e recebia homenagem pelo conjunto da obra no American Music Awards em plenos 24 anos de idade. No mínimo, faz a gente pensar no que é que estamos fazendo da vida.

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