Sobre Adele, Spotify e o Consumo da Música

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Adele finalmente lançou seu álbum 25 no fim de 2015. Porém, tolo é quem pensou que o disco mais aguardado dos últimos anos não chegaria sem causar um tremor na indústria musical. Não vamos discutir a qualidade da cantora britânica – que, convenhamos, já é óbvia há muito tempo –, mas como sua música chega aos ouvidos do público.

Em um ano em que vimos o serviço de streaming crescer – puxado principalmente pelo Spotify e com o lançamento da Apple Music –, Adele resolveu não disponibilizar 25 nessas e em outras plataformas de audições online. Taylor Swift também tomou decisão similar com seu álbum mais recente, 1989, que você não encontra no Spotify, por exemplo.

Adele e sua gravadora alegaram que o apelo da cantora é tão grande – “agrada homens e mulheres, jovens e velhos” – que seus fãs comprarão o disco, seja a versão digital seja a física. Consequentemente, a estratégia combateria a pirataria – sem contar que é mais uma briga contra estes serviços de streaming.

Deu certo, Adele bateu e continua batendo recordes de vendas com 25. Mas bater recordes de vendas de CDs, hoje em dia, talvez seja bom apenas para a gravadora (pensando na música como um meio de negócios). Não para o público.

A forma como consumimos música muda constantemente desde o surgimento da tecnologia MP3. Há quem diga que a indústria fonográfica nunca soube trazê-la a seu favor e, de quebra, vê as vendas de CDs caírem gradativamente, ano após ano, em todo o mundo. ​O​ livro Como a Música Ficou Grátis (Stephen Witt) conta como o surgimento do MP3 e a negligência da indústria fonográfica em relação a ele fizeram com que isso acontecesse.

Desde o MP3, muita coisa aconteceu: a tecnologia evoluiu, a pirataria tomou conta da música, dispositivos que tocam MP3 surgiram e fizeram da Apple (com iPods e iTunes) uma das maiores empresas do mundo, gravadoras faliram, artistas começaram a disponibilizar sua música gratuitamente e sem intermediação de terceiros, serviços de streaming foram lançados, a possibilidade da música independente se expandiu etc. etc. etc.

Há diversas formas de consumir música nos dias de hoje. É mais fácil, por exemplo, encontrar uma pessoa com fone de ouvido escutando pelo celular um álbum que vazou antes do lançamento do que colocando um CD para ouvir em casa. Até aparelhos de rádio instalados em carros possuem uma entrada USB para conectar um dispositivo ao invés de entrada para CD. É mais fácil buscar o álbum no Spotify na tela do notebook do que tirá-lo da estante.

Adicione aí o papel das estações de rádio – que ainda é importantíssimo para a cultura pop –, de webrádios, YouTube e um revival do vinil. A realidade é: nunca foi tão fácil consumir música. E, mais ainda, de obtê-la gratuitamente – mesmo com um notável crescimento de venda da música em formato digital.

Tudo isso afeta, também, a forma como a música é vista ao vivo. O que se nota é a dificuldade de se prender em um show ou a dificuldade que o artista tem para ter a atenção da plateia só para si. Bem-vindo à bipolaridade de um público que vai a uma apresentação ao vivo e passa mais tempo na fila da cerveja ou mexendo no celular e, após o show, volta para casa escutando no carro as músicas que perdeu ao vivo.

A briga contra a pirataria sempre será válida, mas a adaptação é essencial. Os serviços de streaming são uma realidade para o público, não usá-lo a seu favor é perder uma parcela dele. Adele arriscou e conseguiu se sair bem desta vez, mas reconhece que presente e futuro da música não estão mais em apenas um CD. Ainda bem.

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