Quem É U2 em 2017?

U2 foi uma das primeiras bandas que mexeram comigo há mais de vinte anos, quando eu ainda era criança. Pensando hoje como adulto, penso que isso veio pela musicalidade expansiva que sabe trabalhar melodias pop com timbres muito familiares até para quem nunca parou para ouvir um rock grandioso (“de arena”) antes. Era assim no início de sua carreira, era assim naqueles anos 1990 quando eu ouvi pela primeira vez e, com o lançamento de Songs of Experience nesta sexta, 1º de dezembro, dá para observar a mesma situação se repetindo.

A convite da Universal Music, o Música Pavê compareceu a uma audição do disco fechada para a imprensa, e a primeira impressão ao ouvir a sequência de treze faixas que compõem a versão regular da obra foi justamente a de estarmos diante do mesmo U2 de sempre, apostando em momentos ora excessivamente divertidos, ora melodramaticamente emocionantes como a banda fez especialmente em seus lançamentos deste século.

Antes de dar o play, você repara o nome das músicas e nota uma grande familiaridade (para não dizer “um conteúdo esperado”) com a obra do quarteto – títulos como Love Is Bigger Than Anything in its Way, There Is a Light Lights of Home, por exemplo. Você já sabe que haverá pelo menos um momento explosivamente pop, alguma balada que quer apelar para sua sentimentalidade e aquela sensação espacial quase barroca, como se o som se expandisse sempre para além de seus fones. Aí você ouve e, sem surpresas, é exatamente isso.

Dentro desse plano “música que U2 sempre faz”, o que mais se destaca é um ou outro detalhe estético que, em par com a estética da banda como um todo, situa melhor sua música no que é 2017. Pode ser as pequenas interferências eletrônicas vocais na abertura Love Is All We Have Left (um lugar comum bastante básico na produção musica de um mundo pós-James Blake), o aceno ao rock alternativo de décadas passadas em The Showman (A Little More Better) ou mesmo a bipolaridade entre a guitarra tensa e o coro de vozes de Lights of Home – meio Coldplay, meio Imagine Dragons), essas caraterísticas parecem acomodar saudosismo e expectativa em relação ao lançamento, de forma com que ele não se perca nem na lista de “novos discos” da temporada, nem na discografia do grupo.

E é com isso em mente também que pensamos quem quem U2 é em 2017 não é um mero caso de “o mesmo de sempre”, mas de “a banda que seu fiel público espera que seja” – o foco das decisões não parece estar no movimento criativo dos artistas, mas na experiência final do ouvinte. E é aí que eu tento mentalmente quebrar a linha do tempo e inserir Songs of Experience no contexto em que o quarteto irlandês tanto me encantava quando eu era criança ou adolescente, e tenho certeza que este teria sido um álbum que marcaria minha época, assim como foram Pop (1997) ou All That You Can’t Leave Behind (2000).

Por quê? Simplesmente pelo fator entretenimento que acompanha tudo o que U2 vem fazendo há tanto tempo – há envolvimentos em causas humanitárias, há mensagem positiva em suas músicas, mas, no fim das contas, é a experiência divertida, seja no palco ou no disco, que carregamos depois do contato com essas faixas, e é nisso que Bono, The Edge, Adam e Larry são verdadeiros mestres.

Tem a ver com a participação de Kendrick Lamar entre Get Out of Your Own WayAmerican Soul (que repete a mesma música com participação do grupo em DAMN, que o rapper lançou no início do ano), tem a ver com o clima gostosinho de Summer of Love, e também com o popzão assumido em Red Flag Day ou em The BlackoutSongs of Experience é um disco certeiro naquilo que U2 faz melhor, sempre fez e, ao que tudo indica, continuará fazendo, porque é o que o público espera, aprova e pede por mais.

Essa playlist Passado a Limpo propõe uma imersão na obra da banda feita sob medida tendo em mente o perfil do leitor do Música Pavê, para que conheça mais do grupo não necessariamente por seus maiores sucessos, mas pelas músicas que melhor combinam com seu gosto. Há outras assim para nomes como Lauryn Hill, Los Hermanos e Elliott Smith.

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