Marcelo Camelo de volta ao Rio

Rio de Janeiro – 10 de Março de 2012

Era uma fresca e agradabilíssima noite de sábado no Rio de Janeiro. Às 22h, os portões do Circo Voador se abriram e aos poucos o local foi sendo tomado por fãs do Marcelo Camelo – e do Cícero também, claro –; rapazes cujas blusas xadrez denunciavam toda a adoração não apenas pela música do barbudo, mas também por sua estética visual. Da pista (animada ao som de clássicos do Indie) já era possível avistar os pés pendurados daqueles que se acomodavam no segundo piso da casa, onde a vista para o palco é privilegiada.

Por volta de meia-noite, um Cícero nitidamente nervoso e emocionado, acompanhado por um quarteto, ocupava o seu lugar no palco. Sem dizer palavra, a revelação independente de 2011 abriu a sua curta apresentação (pouco mais de trinta minutos) com os acordes de Açúcar ou Adoçante?. Com o público cantando cada uma das dez músicas do set list (todas do seu primeiro disco, Canções de Apartamento, lançado no ano passado), Cícero parecia não acreditar no que vivenciava. “Estou muito nervoso! Abrir o show do Marcelo Camelo é uma honra! Esse é o show mais importante da minha carreira até agora, pelo evento e pela quantidade de gente interessada em me ouvir!”, disse, entre uma música e outra.

A banda que acompanha Cícero conta com um baterista, um baixista, um guitarrista (que pode ser considerado também um “barulhista”, por ficar responsável pelos ruídos bem pensados dos arranjos) e um tecladista, que também ataca no acordeom e no pandeiro. O grupo se mostrou muito eficiente, reproduzindo com fidelidade todas as canções.

Enquanto o público aguardava o show principal, era possível trombar pelo Circo Voador com figuras como o trompetista Bubu (que também acompanhou Camelo nos trabalhos do Los Hermanos) e o cineasta californiano Jack Coleman, responsável pelas filmagens da apresentação.

À 1h15, com as samambaias que compõem o cenário da nova turnê de Marcelo Camelo já em seus respectivos lugares, as luzes do palco se apagaram. Das caixas de som, pôde-se ouvir, em tom de advertência, uma voz que dizia: “Este show está sendo filmado para o próximo DVD de Marcelo Camelo”. Os presentes foram ao delírio. Foi quando a atração principal, acompanhada pela banda paulistana Hurtmold, dava o ar da graça, atacando com A Noite, faixa que abre o mais recente álbum de Camelo, Toque Dela, lançado em 2011. Emocionado com a recepção dos fãs, o cantor e compositor carioca disse: “Que coisa linda! Essa é a minha casa! Estou de volta!”, se referindo ao fato de estar novamente morando no Rio de Janeiro, depois de um bom tempo na terra da garoa.

O show seguiu no clima de Toque Dela, com Ôô, Tudo que Você Quiser, Menina Bordada (esta última do álbum Sou, lançado em 2008) e Acostumar. Até que Camelo se apossa de um banquinho e um violão para tocar, sozinho, Janta (sem a esperada participação de sua esposa Mallu), Liberdade e Pois É, música do repertório do Los Hermanos.

Com o retorno do Hurtmold ao palco, Camelo mesclou músicas de seus dois álbuns solo com outras de sua antiga banda. Foram executadas Doce solidão, Vermelho, A Outra (com outro arranjo, é verdade, mas nada que apagasse a genialidade da composição), Mais Tarde, Morena e Despedida, que marcou a primeira saída de Camelo do palco, abrindo espaço para um número instrumental do Hurtmold.

No retorno do músico, novamente sozinho e ao violão, foi a vez de Santa Chuva, Cara Valente, Casa Pré-Fabricada (as três gravadas também por Maria Rita) e, na sequência, já com o acompanhamento da banda de apoio, a divertidíssima marcha carnavalesca Copacabana e a bela canção “hermânica” Além do que se vê (que contou com uma chuva de Heineken produzida por Camelo em direção ao público e aos músicos do Hurtmold). Nesse momento, as samambaias foram distribuídas entre a turma do gargarejo, que disputava aos tapas cada uma das plantinhas.

Seria um final “em grande estilo”, como o próprio artista tratou de explicar. Mas a nítida felicidade de Camelo em estar de volta aos braços do povo carioca fez com que ele voltasse ao palco pela segunda vez para finalizar, às 2h45, a noite com as também hermanicas Tá Bom e Fez-se Mar.

O que se ouve é que o próximo DVD de Camelo trará imagens de vários shows da turnê Toque Dela. O que posso dizer é que, diante do material capturado no show aqui descrito, será uma tarefa difícil definir o que não entrar no filme. Os comentários do público, durante e após o show, não me deixam mentir.

camelo + cícero

*Luciano Freitas é publicitário, escritor, compositor, músico e chargista. Gosta de charutos, Jazz, Bossa Nova, Rock, Charles Bukowski, Nelson Rodrigues, João Gilberto, HQ’s do Dilbert, filmes de guerra e livros sobre música. Essa foi sua primeira colaboração no Música Pavê

(foto de Ramon Moreira)

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