Lukash: Teatro, ancestralidade e Ava Rocha

foto por sérgio caddah/estúdio caddah

É muito fácil reduzir injustamente o trabalho de Lucas Weglinski a alguns poucos termos, ainda que eles simbolizem territórios bastante expansivos. Sendo ele ator, diretor, cantor, compositor e estudioso, de forma com que essas linguagens e campos do pensamento se interliguem e se alimentem, é mais justo, ainda que menos fácil, uma postura de estar apenas aberto à sua mensagem e às suas propostas artísticas, seja sob seu próprio nome ou sob a alcunha Lukash. É assim que ele assina o trabalho musical que prepara o lançamento de seu segundo disco, Venta, e mostra – em primeira mão no Música Pavê – o single Asa Negra, acompanhado de videoclipe.

Muita gente rotula minha música como ‘teatral’ e eu fico muito perdido nesse conceito”, contou ele por telefone, lembrando que o termo adquiriu sentido de “fingido”, uma qualidade que ele não explora em sua música – muito pelo contrário. “Teatro não é fingir, é interpretar”, explica, “O teatro que ensina, o teatro que cura, é o teatro que me interessa. É uma ferramenta de expansão da consciência, de te localizar dentro do mundo e te fazer conectar novamente com sua ancestralidade”.

Isso tem muito a ver com Asa Negra, canção e clipe que dialogam com uma raiz de significado da arte brasileira, em suas diversas manifestações, ligada a elementos da natureza que ajudam a definir a maneira com que enxergamos o mundo ao nosso redor. Lucas conta que escreveu a faixa para Ava Rocha, “uma grande parceira minha, a gente já fez muita coisa junto. Eu produzi o primeiro curta e o primeiro longa dela, já tivemos muitas experiências juntos em teatro e música. Eu escrevi essa pra ela e o Marcos [Campello, produtor do disco] fez esse arranjo maravilhoso, riquíssimo, que traz toda a força da floresta para a música. Como a Ava se chama Pátria Índia Iracema, acabou virando uma música em homenagem à nossa pátria, à nossa mátria, à nossa terra brasileira indígena. O Venta é um disco muito ligado à mata, à ancestralidade brasileira”.

A faixa é a segunda apresentada do álbum, depois de Super Lua, também lançada com clipe. Lucas conta que ela e Asa Negra foram as escolhidas para o início do trabalho com Campello por serem “dois pólos opostos” que mostram “um pouco dessa heterogeneidade que vai ser o Venta, um disco com vários estilos musicais que se atravessam. Ao mesmo tempo, as duas são canções, por mais quebradas e desconstruídas que sejam. E o que elas têm em comum, e o disco inteiro é assim, é esse lugar que eu chamo justamente de Venta, onde, de repente, a música se desloca para um outro planeta, um outro universo. Ela vira uma outra música e vive aquela energia até circular de volta para onde ela veio”.

Super Lua é uma música que nasceu de uma situação amorosa muito pessoal que eu vivi”, conta Lukash, “pra eu exorcizar essa paranoia de mim, fiz essa música”. Seu videoclipe, dirigido por Vinicius Nascimento, nasceu de uma pesquisa em VHS do cineasta e foi gravado na Boca, no Rio de Janeiro, como “uma despedida minha da cidade, onde passei os últimos cinco anos. Asa Negra marca o momento seguinte, minha chegada a São Paulo e o percurso por essa cidade, essa terra indígena dentro do urbano. Eu fiquei chocado que na Pompeia tinha uma pequena florestinha com uma fonte de água pura cheia de peixes. A gente resolveu fazer o clipe misturando essa mata que cresce dentro da cidade e a outra mata que é o próprio graffiti da cidade, e o carnaval”.

Ainda sobre sua visão artística, ele comenta que, ainda que Super Lua fale “de uma paranoia pessoal”, há uma leitura dela que revele uma “paranoia que a gente está vivendo agora, que metade do Brasil de repente odeia a outra metade e ninguém sabe por que. Não sabe se é por causa do robô do Facebook, da televisão, de uma burrice generalizada, mas, de repente, todo mundo tá querendo se matar e matando o Brasil”. Isso está totalmente ligado ao seu trabalho com teatro, que ele explica como: “O teatro pra mim é a vida. A matéria prima que a gente trabalha é a vida. A gente sempre vai tratar e passar pelo filto do aqui e agora. São todas as questões políticas, não no sentido de partidário, mas no sentido de convivência, do coletivo, do que deveria interessar a todos”.

A data de lançamento de Venta ainda não foi anunciada. O single Asa Negra, no entanto, chegará às plataformas digitais em 27 de abril.

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