Los Hermanos: Esse Carnaval Não Teve Fim

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Dentre os passeios na orla da minha própria memória, recordei devaneios musicais, recriei as mesmas serpentinas que aguçavam os meus sentidos numa paisagem distante, um misto de qualquer coisa com tudo preenchido, difícil foi acender as luzes desse corredor. Mas subi a escada do mercado, virei à esquerda, entrando na área musical (quando essas eram cheias e charmosas) e me lembrei (como não lembrar?) da primeira vez que ouvi Los Hermanos.

Claro que os meus ouvidos já tinham se deparado com Anna Júlia, ação involuntária, já que nessa época todos os habitantes da cidade foram invadidos por esse hit, porém, considero que, naquela noite acompanhado pelos meus pais, ouvi essa banda que, diferente da musicalidade que tornou-a famosa, ainda sim era muito numa constante de repetições que aconteciam no cenário musical.

No primeiro álbum, o som era pesado, rimando mais com uma espécie de ska. Tenha Dó, primeira canção que ouvi, deixa bem claro qual tonalidade preenchia a atmosfera. Recordo que ouvia e pensava: “Nossa, que legal isso”. Músicas como Descoberta, Quem sabe, Azedume e Outro Alguém me fizeram não só comprar o álbum, como ouvi-lo durante um ano inteiro.

Em seguida, semelhante ao que ocorre quando se afasta de um amigo bem próximo, comecei a ouvir outras coisas e a própria banda sumiu um pouco no intermédio de um álbum para outro. Foi então que, caminhando para o metrô em uma tarde, ouvindo a saudosa 89 FM, tive uma surpresa: lançamento do novo hit, Todo Carnaval Tem seu Fim. E novamente, a mesma sensação de outrora estava acontecendo e saía apenas uma fala tímida: “Nossa!”.

Embora tivesse adorado a música e tudo o mais, ao contrário do seu antecessor, não fui atrás para ter mais informações e segui a vida assim. Assistindo a MTV, numa terça feira à noite, um skatista iniciante e fã de Charlie Brown Jr (quem diria a ironia), começo a ver o Luau com eles e concluí que, sem dúvidas, Cadê teu Suin era uma das coisas mais geniais que já tinha ouvido. Estava claro que teria que dar atenção novamente para esse novo Los Hermanos.

Não comprei o segundo álbum, Bloco do Eu Sozinho, mas testemunhei em diversas mídias a mudança da sonoridade e sempre tive muita inspiração em relação a esse desdobramento, já que apontava um caminho natural de amadurecimento, e ouvir o primeiro e o segundo disco é concretizar uma diferença nítida.

Na mesma MTV, acompanhei a entrevista de lançamento do terceiro trabalho – Ventura –, já me tornara fã dos caras e vibrava com o clipe todo singular de Cara Estranho e o de Vencedor, mas não havia comprado o CD nem indo ao show, tampouco conhecia todo o repertório. Era difícil se aprofundar no trabalho de um grupo específico, ainda mais quando se vivia dentro de um período em que o movimento de se ouvir música era o contrário. Os hits das rádios e da MTV imperavam e tudo era bem superficial.

Já com o advento de uma Internet razoável ensaiando aparecer em casa, o quarto trabalho era lançado, chamado de 4, mas eu ainda comprava CDs e havia conhecido um garoto que vendia discos piratas de bandas alternativas, sendo nesse cenário que o quarto disco veio parar na minha mão, no momento que troquei um CD de The Vines por esse dos barbudos.

A primeira impressão que eu tive ao ouvir foi não ter impressão. Talvez fosse a terceira fase desse instigante grupo, que evidentemente era inimigo do conforto, saindo novamente dos seus padrões, fazendo para mim uma das melhores coisas que eu já escutei. Um trabalho denso e que abriria a porta de vários quartos, já indicando que cada integrante queria sentir mares novos.  Relembro que, após o anúncio do recesso, adentrei no universo deles naturalmente, ouvindo exatamente tudo que eles já gravaram – desde trilha sonora para cinema, passando por covers perdidos de para outras bandas. E lá se foram muitas músicas deles ouvidas em diversos locais e períodos: um show de abertura para Radiohead, uma peça de teatro em homenagem a Bloco do Eu Sozinho e trabalhos solo.

Pois é, lá se vão lembranças apagadas, amenas, constantes e vivas. E as serpentinas caem no chão.

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