Lara Aufranc: “Viver o amor é um ato de coragem”

“Tinha uma pedra no meu caminho, e quando eu vi, era eu”. Lara Aufranc – artista que conhecemos no projeto Lara e os Ultraleves – encontra consigo mesma em seu mais novo trabalho, concreto e maduro, fruto desse autoconhecimento.

Dentre as muitas qualidades da cantora e compositora, podemos citar uma central: Versatilidade. Lara executa de forma inteligente muitas tarefas. Suas performances, seu dedo nas artes visuais e a gestão de sua carreira servem de embasamento para cravar que ela é uma artista completa.

Antes de se reencontrar, lançou um álbum em 2015 chamado Em Boa Hora, e nele já dava para notar algumas influências como de Elza Soares, Beck e Tom Zé. A sonoridade agrada quem gosta de O Terno, sendo ainda mais setentista e experimental com MPB e Pop, tudo isso em torno de uma lírica poética, pessoal e inteligente quando aborda certos temas.

Seu mais recente disco é de 2017, Passagem, e nele já podemos ver a pessoa madura da artista e de pautas firmes, mostrando seu potencial para figurar entre os grandes nomes da música de hoje no Brasil. Para conhecermos mais de seu trabalho, a cantora falou um pouco ao Música Pavê.

Música Pavê: Algumas pautas são abordadas em sua obra, como o posicionamento feminino e o cotidiano. Sobre as relações líquidas, você vê algo nesse campo que tenha ajudado as mulheres, diferente da forma tradicional de se relacionar?

Lara Aufranc: Existem as mais variadas formas de se relacionar hoje em dia. Tenho a impressão de que os jovens hoje são mais livres para seguir seus desejos, sem o peso dos rótulos. Aquela coisa das pessoas se interessarem por pessoas, independente do gênero, e de deixar o seu amor livre para amar, como cantavam os Doces Bárbaros. Mas talvez, justamente por haver um avanço, uma maior liberdade sexual e de gênero, tem um retrocesso também. Em 2017, houve um aumento em 30% dos homicídios LGBTs em relação ao ano anterior. A violência contra a mulher é uma realidade gravíssima: Em 2015, o Brasil registrou um estupro a cada onze minutos. E isso são só os registrados.
Ou seja, estamos numa gangorra. Viver o amor é um ato de coragem.

MP: Você transita entre o som e o visual. O que te influencia no campo visual que reflete em sua sonoridade, seja na lírica ou na melodia?

Lara: As trilhas sonoras. Desde obras clássicas como O Poderoso Chefão às trilhas de Tarantino. Eu vejo a música como parte da história, não dá para pensar naquela cena de Bastardos Inglórios em que Shoshanna está prestes a pôr fogo num cinema cheio de nazistas sem lembrar do Bowie cantando “I’m putting out fire with gasoline”. Essa música, aliás, era trilha de um outro filme, Cat People de 1982.

MP: Nesta sua nova empreitada, você cultiva algum sonho, como compartilhar sua poesia com outro artista ou tocar em algum lugar?

Lara: Sim, os sonhos são fundamentais! Eu sonho em viajar, cantar nos lugares em que nunca estive, conhecer novos públicos, me espalhar por aí. E, falando nisso, vou participar do Festival Picnik em Brasília no dia 12 de outubro. Será minha primeira vez na cidade. Ao contrário de artes plásticas ou literatura, a música é uma arte que pode ser feita em grupo. Letras, melodias, arranjos… as ideias se acrescentam. Meu disco tem várias parcerias, e a produção musical eu assinei junto com a banda. Estou sempre a disposta a colaborar com outros artistas também. Afinal, como já disseram os Beatles: “The love you take is equal to the love you make”.

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