HONNE e a Sorte do Caminho Sem Gênero Definido

foto por will courts

HONNE é uma dessas bandas com a experimentação no centro de sua essência criativa. Nesse caso, contudo, os experimentos acontecem dentro do território pop, com melodias amigáveis, timbres agradáveis e uma aparente simplicidade que disfarça tanto a vontade de inovar, quanto o conteúdo sensível de suas letras. É difícil, portanto, saber o que esperar do duo ao dar play em uma nova música.

“Nós não temos lá tanta certeza de quem nós somos”, brinca James Hatcher em entrevista ao Música Pavê, “vemos cada novo disco como uma tela em branco na qual podemos provar que faremos algo melhor que no anterior”.

Formada em Londres há dez anos, a banda já tem quatro álbuns lançados – e o quinto, OUCH, está marcado para setembro -, todos com grande liberdade de exploração estética dentro de seu som pop minimalista e experimental. Isso já gerou convites de colaborações com gente do naipe de Tom Misch, SG Lewis, Khalid e até o gigante BTS.

“Acho que tudo o que já lançamos foi, de uma maneira, simples, mas cheio de personalidade e com vários detalhes interessantes que fogem do ‘normal’”, explica James, “e se essa é nossa identidade, podemos ser mais fluidos com os gêneros que queremos tocar com nossas músicas, mesmo dentro de um só disco. Podemos ter uma base de hip hop, depois fazer algo mais perto do funk, ou mais eletrônico… Temos a sorte de poder percorrer um caminho sem gênero definido, o que é sempre divertido”.

Andy Clutterbuck, a outra metade do duo, conta que as composições nascem de suas experiências pessoais – Girl in the Orchestra, por exemplo, fala de uma paixão da adolescência. “Não gosto de escrever sobre histórias inventadas, porque, quando vou cantá-las ao vivo, é mais legal que aquilo tenha significado para você. E se você canta sobre algo que te aconteceu, há mais chances das outras pessoas que passaram por algo semelhante se identificarem com o que está sendo cantado. O objetivo para mim é me conectar com as pessoas em um nível humano por meio da música”.

OUCH tenta montar uma cronologia dessas experiências de Andy, desde os tempos de colégio até o início da vida adulta. Musicalmente, o desafio foi evitar utilizar o sintetizador Prophet 8, favorito da dupla e “talvez presente em toda música que já lançamos”, brinca ele. “Tentamos, mas não sei se conseguimos (risos), ele está ali atrás mais discreto, somando ao todo. Tentamos sempre seguir em direções novas, criar sons diferentes e surpreender – a nós mesmos e aos outros. Deve ter gente que sente saudades daquele HONNE de antigamente. Ele sempre estará lá, mas sempre terá uma nova versão também. Não queremos ser uma fotocópia do que já fomos antes”.

“Acho que o fato das pessoas quererem trabalhar conosco aumentou nossa confiança para entender que o que fazemos é interessante”, comenta James, “como RM (BTS), que obviamente curte nosso som, porque já nos chamou para trabalhar algumas vezes. Se os artistas querem essa colaboração, é porque temos algo único para oferecer”.

E o que HONNE tem a oferecer dentro do universo muitas vezes pasteurizado do pop? “Gosto de letras que têm essas surpresas, como uma música feliz com alguns versos mais obscuros”, comenta Andy, “ou uma música que não tem cara nem de ser feliz, nem de ser triste, que pode estar te levando a uma direção e te trazer a um outro lugar no fim. Acho que esse é um dos fatores que nos impedem de entrar nesse mundo ‘extremamente’ pop. Há esse toque de melancolia sempre presente. Mas é a maneira que nós entendemos nosso som. Se não fosse assim, estaríamos fazendo a mesma música que os outros”.

“Acho que é importante que você, como artista, trabalhe do jeito que quer trabalhar e esteja feliz com o que faz”, conta James, “porque, no fim das contas, a pessoa que não acredita no que faz, que está ali só tentando lançar o próximo grande hit pop, continuará insatisfeita quando atingir seus objetivos, porque não é o artista que gostaria de ser. Prefiro ser quem eu sou e, se der certo, melhor ainda”. “Mas seria lindo ter um grande hit, né?”, brinca Andy, e o amigo concorda.

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