Faixa a Faixa: Emicida – Sobre Crianças…

emicida-sobre-criancas-quadris-pesadelos-e-licoes-de-casa

Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa é uma obra completa, feita dentro de luta (ou lutas) muito maior do que o próprio disco sem perder um fator de entretenimento que faz com que você tenha vontade de ouvi-lo com frequência. Já não tínhamos dúvidas e confirmamos novamente: Emicida merece todo nosso respeito.

Três meses após seu lançamento, com tempo suficiente para digerir o álbum, parte da equipe Música Pavê deciciu comentar cada uma das novas músicas do rapper, dono também de um dos melhores shows do Brasil hoje.

1. Mãe

“Emicida canta sobre a vida, é o que mais se aproxima de uma catarse real. Em Mãe, ele fala sobre as nossas mazelas, as diferenças e ciladas do dia a dia. Por mais que você se proteja do mundo e feche os olhos para os nossos problemas, há sempre uma voz que estará contigo nesse mundo incerto. Eu também ouço a voz de minha mãe. Todas as decisões que tomo passam por ela. É o que há de mais certo nesse mundo. Linda música” (Guilherme Canedo)

2. 8

“Você ainda deve estar chorando depois de ouvir a arrebatadora Mãe e a nossa jornada está apenas no início. Emicida não poderia ter escolhido maneira melhor pra começar seu disco, porque o ouvinte está desarmado pra receber a avalanche de dedos na ferida que se seguem. 8 é o primeiro murro sonoro do tratado do rapper sobre desigualdade racial e social no Brasil: letra e percussão não dão trégua e cada verso é um tapa na cara. E pra caso alguém tenha perdido o foco durante duas músicas tão intensas, Emicida encerra esse prólogo duplo com um pedido falado que nos dias de hoje é quase uma súplica: ‘Se informar, entender o que está acontecendo ao nosso redor’. Esse disco já é de fato um ótimo instrumento pra isso” (Luis Gustavo Coutinho)

3. Casa

“Em Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa”, Emicida namora muito com a África. A forma de cantar em coro e as percussões elaboradas com batidas secas nos traz muito para a dança. Todas essas características encontram-se destacadas em Casa, a terceira faixa do álbum. É uma música com muitas camadas e muito bem produzida. Entre batidas tradicionais e o eletrônico, há um mundo a ser desvendado” (Guilherme Canedo)

4. Amoras

“O interlúdio que soa inocente tanto no tom de voz de Emicida quanto no instrumental – e pode passar batido numa audição sem atenção – toca num dos pontos mais importantes quando se trata de preconceito: representatividade. É essencial que essa consciência seja desenvolvida nas crianças se quisermos uma geração menos oprimida e mais tolerante com as diferenças. Em menos de um minuto, Emicida divaga sobre o assunto da forma mais lúdica possível, como se tivesse nos contando uma história na beira do berço pra gente dormir. A diferença é que o caso aconteceu realmente com sua filha, e a pequena canção de ninar está pedindo que a gente acorde” (Luis Gustavo Coutinho)

5. Mufete

“Se Djavan concretizou que Mufete nos transporta para a África, quem somos nós para dizer o contrário, não é? O refrão conta para os ouvintes os lugares que Emicida visitou e se inspirou para criar o seu novo álbum. Sem dúvidas, uma das melhores canções do ano, mostrando e dando indícios da evolução do rapper como cantor e letrista” (Rômulo Mendes)

6. Baiana

Baiana já seria ótima interpretada apenas por Emicida. Mas, quando entra Caetano, o resultado é uma obra tão rica quanto à cultura brasileira. Cheia de lábia, poética e a máxima da sensualidade, no sentido de sentir, Baiana apresenta seus batuques de forma intrínseca à sonoridade das palavras. Não sei se gosto mais de Caetano por ter cantado com Emicida ou mais de Emicida por ser ‘parça’ de Caetano” (Anna Rinaldi)

7. Passarinhos

Passarinhos só reforça o quão talentoso é Emicida. Desde o começo da carreira, o rapper já fez parcerias com diversos nomes da música brasileira e agora, ao lado de Vanessa da Mata, deixou um hit para todos os gostos. Uma música linda que fala de esperança no meio de tanto caos” (William Nunes)

8. Sodade

“Aqui temos outro interlúdio, e um muito mais transcendental do que narrativo. Sodade é cantada por Neusa Semedo, vocalista do grupo Batucadeiras do Terreiro dos Órgãos,  de Cabo Verde – arquipélago africano dominado por Portugal e que se desenvolveu como país a partir do tráfego e comércio de escravos. A canção é cantada em crioulo cabo-verdiano e a única palavra que nos é permitido entender é mesmo seu título. Não compreender a letra parece nos aproximar da sensação de distanciamento das raízes e de querer nos afundar no descobrimento de nossas raízes” (Luis Gustavo Coutinho)

9. Chapa

“Repetindo a parceria com o mesmo grupo da faixa anterior, o rapper canta sobre saudades – uma das maiores heranças da língua portuguesa em suas colônias (ou uma das únicas verdadeiramente positivas). Nosso idioma é entoado em um cântico de esperança que pede a roda, chama pelo coletivo, já que todas as fronteiras, mesmo as marítimas, são quebradas quando aquilo que nos une é o que nos torna mais humanos” (André Felipe de Medeiros)

10. Boa Esperança

Boa Esperança é uma música que não será sucesso em rádios ou na televisão. Talvez, até mesmo, fique restrita para quem conhece o trabalho completo de Emicida. Infelizmente. É uma das músicas mais fortes que escutamos em 2015, pra não afirmar que é a mais forte. Emicida já falou abertamente de racismo na televisão, nas suas redes sociais, em entrevistas e tantos outros lugares. As palavras do rapper na faixa saem raivosas, críticas e certeiras. O clipe reforça esse soco na cara que é Boa Esperança” (William Nunes)

11. Trabalhadores do Brasil

“Marcelino Freire entrega uma interpretação primorosa e carismática no segundo interlúdio do disco, que une duas de suas faixas mais fortes sem economizar nas palavras e na poesia do discurso. Ouça bem que vale a pena” (André Felipe de Medeiros)

12. Mandume

“Reúna os rappers da nova geração e grite uma canção indicando que quem ascendeu socialmente e ganhou a voz hoje em dia não vai abaixar a cabeça para os opressores de sempre. Música que lembra a sonoridade do rap de antigamente” (Rômulo Mendes)

13. Madagascar

“As cantoras nos backing vocals podem até indicar um momento pop romântico do disco, mas Emicida não suaviza na sagacidade das letras. Mais lúdico e melódico, aqui ele brinca com trocadilhos (“Madagascar/uma adaga, no ar/Renoir”) e usa referências de escritores como Mia Couto e Pablo Neruda, além de Oduduwa, uma divindade iorubá, para construir uma poética que cria imagens muito claras. A canção tanto serve de uma declaração de amor a uma mulher como de encantamento com o continente africano, de onde vieram boa parte das inspirações para o álbum” (Nathália Pandeló)

14. Salve Black

“O estilo livre que encerra o disco vem no clima de comunidade que muitas de suas músicas trazem com um cenário ensolarado de fim de semana, aquele tempo para reabastecer os ânimos e ter forças para viver todos os outros dias. Sobre Crianças… acaba aqui, mas nossa luta continua. É nóis” (André Felipe de Medeiros)

Curta mais de Emicida e outros artigos faixa a faixa no Música Pavê

Compartilhe!

Shares

Shuffle

Curtiu? Comente!

Comments are closed.

Sobre o site

Feito para quem não se contenta apenas em ouvir a música, mas quer também vê-la, aqui você vai encontrar análises sem preconceitos e com olhar crítico sobre o relacionamento das artes visuais com o mercado fonográfico. Aprenda, informe-se e, principalmente, divirta-se – é pra isso que o Música Pavê existe.