Entrevista: Skunk Anansie

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São poucas as bandas que conseguimos nos lembrar o instante em que viramos fãs. No caso de minha relação com Skunk Anansie, isso aconteceu em meu primeiro contato com o quarteto britânico, na ocasião em que se apresentou no MTV EMA’s de 1997 (o vídeo ao final do artigo). Eu, praticamente uma criança, fiquei boquiaberto com aquela sonoridade peculiar, diferente do pop e pop rock que eu tanto ouvia na época e pelo carisma de Skin, sua vocalista. Por isso, quando a assessoria da banda procurou o Música Pavê com a oportunidade de uma entrevista por telefone, eu sabia que a missão não era apenas uma oportunidade de bom conteúdo para o site, mas uma responsabilidade para honrar todas as vezes que dancei, cantei e até sofri (e vocês entendem isso que eu sei) com essas músicas nas duas últimas décadas.

Comecei nossa conversa contando justamente essa história, recebida com uma simpática risada do outro lado do telefone, completada por “e eu estou muito feliz de estar falando com alguém do Brasil!”. Enquanto falava sobre seu novo álbum – o ótimo Anarchytecture – e os mais de vinte anos de carreira da banda, a cantora, produtora, DJ e modelo (ela estampa a nova e bela campanha da marca Sisley) comentou sobre sua vontade de tocar no país e deixou claro, em meio a muita experiência e simpatia, o motivo de ser vista como uma das pessoas mais interessantes da música contemporânea na Europa.

Música PavêO conteúdo crítico de suas letras faz com que a relevância de suas músicas seja indiscutível. Na hora de fazer o som, você tem a mesma preocupação de fazer algo também relevante para uma época ou geração?

Skin (Skunk Anansie): Acho que, se você ouvir Skunk Anansie e comparar com outras bandas que estão na ativa há vinte anos, nosso som será sempre mais “fresco”, mais contemporâneo, porque… Quer saber? Já estamos bem resolvidos com os anos 90. Não é legal ser nostálgico com uma década que já passou há tanto tempo, ficar tentando viver naquela época seria entediante para todos nós da banda individualmente. Então, sim, nosso som é bem contemporâneo, mas ainda é Skunk Anansie, sabe? Sempre que nós quatro fizermos música juntos, o que tocarmos será Skunk Anansie.

MP: Eu imagino que, ao longo dessas duas décadas, seu som já tenha sido chamado de muita coisa, até por ele parecer pop demais perto dos alternativos e vice-versa. Como você enxerga a sonoridade da banda hoje?

Skin: Eu estava pensando hoje nas novas músicas, e uma coisa que eu considero muito forte nesse novo álbum é que escrevemos música pop, só que no nosso estilo. Todas as faixas tem um refrão, e isso é proposital, não porque queríamos fazer algo dentro do universo pop, mas porque queremos que seja muito claro sobre o que cada canção se trata. Isso torna o disco mais acessível e bom de cantar. Se você olhar para nossa carreira, verá que muitas das nossas músicas tem refrões, mesmo se eles forem gritados (risos).

MP: Eu não sei se diria “gritado”, mas seu som me parece sempre muito “potente”. Foi daí a ideia de fazer um disco acústico?

Skin: Na verdade, foi algo mais simples. Eu estava tocando em um festival como DJ e me ofereceram voltar no ano seguinte e tocar com a banda em formato acústico, que é como todos os shows lá são. Achamos que seria algo interessante fazer algo assim depois de vinte anos tocando com instrumentos elétricos. Ensaiamos por três semanas e percebemos que renderia muito mais do que apenas um show e, voilá, temos um álbum.

MP: Nós aqui estamos acostumados a debater e analisar as mudanças que o mercado sofreu nessas duas últimas décadas. Como você entendeu esses cenários, do ponto de vista de artista?

Skin: Uma maneira fácil de explicar é dizer que, em 1997, meu trabalho era ser vocalista de uma banda de rock. Eu escrevia músicas, gravava e tocava elas ao vivo. Eu até dava uma ideia ou outra fora disso, mas meu trabalho era esse, o resto ficava a cargo de outras pessoas, umas vinte pessoas da gravadora. Agora, como vocalista da minha banda, eu dirijo a empresa Skunk Anansie, dirijo nosso selo, Boogooyamma, e a marca Skunk Anansie, e todo mundo dentro da banda tem áreas específicas para cuidar – por exemplo, Ace cuida de todo o merchandise, Mark faz vídeos, Cass é responsável pelos shows, eu trabalho mais nas músicas e nosso empresário gerencia tudo isso. Nós cinco fazemos a marca Skunk Anansie acontecer, fazemos desde o marketing até o social media. Então, não poderia ser mais diferente do que era há vinte anos. Como atravessamos essas mudanças do lado de dentro da indústria musical, sempre vimos que não dava para fazer as coisas do mesmo jeito que elas eram antes e que precisávamos pensar em novas maneiras de expor nossa música, de novas ideias para trabalhar a banda. As coisas dos anos 90 ficaram nos fucking anos 90. Sempre soubemos quem somos e nos esforçamos para sermos sempre contemporâneos.

MP: Skunk Anansie sempre foi uma banda de uma liberdade criativa muito grande, mesmo quando isso gera controvérsia. Você acha que essa é a natureza da banda?

Skin: O que você entende por “natureza”?

MP: Personalidade. Parece ser uma banda que investe no que acredita e em sua originalidade.

Skin: Acho que, quando você está em uma banda, você faz suas músicas e as pessoas acabam gostando delas. Você não faz as músicas [para que] as pessoas gostem. Esse é o caminho, fazer a música para nós mesmos. Foi o que fizemos no início e foi por isso que as pessoas gostaram da banda. Você pode até tentar pensar em algo mais específico para o público, mas sua criatividade será prejudicada pelas dúvidas de “o que será um bom single?”, ou “a que os fãs reagiram bem da última vez?”. Não queremos trabalhar de forma com que a marca defina a criatividade. Sim, somos uma marca, somos uma empresa e um selo, mas podemos mudar um pouco a cada álbum porque estamos desenvolvendo nossas experiências. Foi assim com esse novo álbum e tem sido muito bom ver a reação do público. Acho que as pessoas apreciam a experimentação. Vai ter quem diga “ah, mas eu gostava do velho Skunk Anansie”. Mas o velho Skunk Anansie é o velho Skunk Anansie, você nunca mais verá ele de novo (risos). Você tem que ser corajoso, você tem que olhar pra frente e incentivar sua própria criatividade.

MP: Você se considera um modelo para os mais novos?

Skin: (enfática) Não. Quer saber? Eu nunca poderia ser um modelo, porque modelos devem ser perfeitos, devem ser sobre-humanos – o que é uma posição da qual eu estou muito, muito distante. Nós somos quatro pessoas comuns e eu acho que isso acaba sendo uma inspiração para as pessoas que curtem nosso som, mas minha única função é essa, é fazer música com a banda. Eu não estou aqui para que as pessoas queiram ser iguais a mim e blá blá blá, estou muito longe da perfeição. Acho que as pessoas que nos colocam em pedestais se decepcionam, porque somos só humanos.

MP: Vocês possuem alguns clipes incríveis em sua videografia. Você gosta de vídeos? Se envolve nas produções?

Skin: Eu amo clipes, estou sempre vendo novos. Nós tentamos colaborar com algumas ideias e às vezes elas funcionam, mas em outras elas não dão nada certo, porque às vezes você pensa em algo, mas precisa ceder de tantas formas que, no fim, já virou uma coisa totalmente diferente. Nós não temos muito orçamento para fazer clipes, então tentamos fazer o melhor com ideias simples. Nos anos 90, tínhamos muito mais dinheiro para isso, então a qualidade dos vídeos naquela década era muito mais alta, e acho que a qualidade era mais alta no que todos faziam, porque tinham centenas de milhares só para um vídeo, o que é um absurdo. Hoje, você tem sorte se conseguir 25 ou 30 mil no máximo. Então você precisa investir em ideias novas. As pessoas estão acostumadas a nos ver tocando em tantos vídeos no YouTube, então você precisa pensar de forma diferente. Às vezes, o melhor a fazer é deixar tudo nas mãos na produção – o que nem sempre funciona, mas tem vezes que o resultado é brilhante.

MP: E quando veremos Skunk Anansie no Brasil?

Skin: Sabe, tivemos umas três oportunidades já para tocarmos no Brasil, mas, por uma razão ou outra, elas não deram certo. Estive aí de férias há uns dois anos e amei, quero muito voltar. Nós não temos planos concretos no momento [para shows no país], mas estamos vendo como seria. Quando formos, vamos fucking curtir muito.

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