Entrevista: Selton

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Pensa um nome que todo mundo pra quem você indica curte – e muito. Pois prepare-se, Selton é sua nova banda favorita e você ainda nem sabe disso.

Essa tem sido minha experiência com o grupo desde que conheci seu som há alguns meses. O quarteto tem uma história bem legal: Quatro brasileiros que se conheceram em Barcelona, começaram a tocar na rua músicas em inglês, um produtor viu, sacou o potencial, e os levou para a Itália, onde assinaram com gravadora e já lançaram dois álbuns, incluindo Saudade (2013), que também foi lançado no Brasil, com músicas que misturam inglês, português e italiano, incluindo cover de Qui Nem Giló.

Sua música é super contemporânea, daquelas que lembram de tudo, de Beach Boys a Vampire Weekend. Donos de um show sensacional, os músicos retornam ao Brasil neste mês para uma turnê de nove apresentações em cinco cidades (datas e locais ao final do texto). Eu já os vi ao vivo três vezes e, olha, vou fazer o possível para vê-los no maior número possível de ocasiões agora novamente (vai que demora pra eles voltarem ao país, né?).

Pra te mostrar ainda mais da banda do que só as músicas, conversei com Ramiro Levy (o cara do ukulele e sorriso carismático da foto) sobre o novo álbum, turnês, óculos de sol e, é claro, videoclipes – incluindo o inédito Across the Sea, que está pra sair super em breve.

Música Pavê: Outro dia, emprestei meu CD Saudade pra um amigo que não conhecia Selton e ele comentou depois de ouvir: “Chama ‘Saudade’, mas as músicas não são nada tristes”. Isso é porque hoje “saudade inté que assim é bom” pra vocês?

Ramiro Levy, da Selton: Na verdade, pra nós, saudade não quer dizer algo triste. É um sentimento muito mais amplo e complexo. Tem mais a ver com uma sensação nostálgica que às vezes pode ser boa, prazerosa. Com o fato de estarmos há tanto tempo longe de casa e de termos vivido tantas “vidas” diferentes, em lugares diferentes, é como se levássemos aonde quer que vamos esse olhar externo, essa constante sensação de ser estrangeiro, até mesmo quando voltamos para o Brasil. A nossa “saudade” talvez seja a saudade de um lugar que um dia chamamos de casa. Um lugar bonito e distante que já não existe mais, mas que está dentro de nós.

MP: Ao ouvir o álbum, fica a sensação de que vocês se divertiram muito no estúdio com todos os instrumentos e possibilidades de gravação. Como foi o processo de criar o registro?

Ramiro: O processo de gravação do disco foi muito interessante e estimulante pra gente. Pela primeira vez, tivemos a possibilidade de fazer um período longo de pré-produção, aqui na nossa casa em Milão. Isso nos permitiu experimentar muitas coisas, com muita calma e num ambiente super relax. Depois desse período experimentando, gravando e regravando coisas em casa, entramos em estúdio com o Tommaso Colliva, nosso produtor italiano e grande amigo. Conseguimos reaproveitar muita coisa das gravações caseiras que às vezes tinham esse clima relaxado e descompromissado que nos agradava. Todo o resto, refizemos em estúdio com o Tommaso. Ficamos muito felizes com o resultado, sentimos que de toda a nossa carreira esse é o disco que mais nos representa, que mais se aproxima de quem realmente somos.

MP: Por falar em se divertir, seus clipes mostram bastante disso também. Vocês curtem gravar os vídeos? Qual é o envolvimento de vocês nas produções?

Ramiro: Sim, nos divertimos muito fazendo os nossos vídeos. Além dos videoclipes institucionais, curtimos muito autoproduzir vídeos. No ano passado fizemos uma série chamada Selton TV na qual lançávamos um vídeo por mês. Foi um projeto divertido e que contribuiu muito para a nossa aproximação com o nosso público. Para o lançamento do disco também produzimos uma série de seis teasers que jogavam com o conceito de estar constantemente em dois lugares ao mesmo tempo.

MP: Ainda sobre videoclipes, como foi a experiência de fazer Across the Sea em animação? De onde veio a ideia?

Ramiro: Foi uma experiência muito legal. O vídeo vai ser feito em duas partes: uma filmada, na qual atuamos e tudo, e uma toda feita em animação. Pra gente é uma experiência nova e muito estimulante. O vídeo tem a produção de dois diretores, Francesco Imperato (o mesmo de Drunken Sunshine) e Selmi Barissever. Na prática, a ideia do vídeo foi uma união entre as ideias dos dois. Um se ocupou da parte filmada (mais cinematográfica) e o outro da parte animada. A ideia soava também como um desafio, por isso topamos. Em breve teremos novidades, não vemos a hora de ter o vídeo pronto!

MP: Muitas das músicas do disco tem uma proposta narrativa interessante, com alguma historinha sendo contada, o que é muito comum na música apresentada na rua. Que outras “lições” dessa época da banda vocês trazem pro trabalho hoje?

Ramiro: Esse modo de escrever é uma coisa que nos pertence muito, desde o início. Gostamos de contar histórias, e através delas transmitir mensagens. Dos tempos em que tocávamos na rua, acho que levamos muita coisa. A essência de buscar sempre o contato direto com o público, a espontaneidade, o prazer em provocar emoções nas pessoas de maneira direta, a constante troca entre público e banda, a aleatoriedade, o carisma… De verdade, devemos muito a essa nossa experiência tocando nas ruas de Barcelona. Se não fossem aqueles dois anos tocando no Parque Güell, cinco dias por semana durante horas e horas, realmente não sei dizer quem seríamos hoje.

MP: Banda de brasileiros formada na Espanha, residente na Itália e que canta em inglês. Essa mistura toda gera em algum momento alguma “crise de identidade” no grupo ou vocês veem que a identidade da Selton como banda vem mesmo dessa pluralidade toda?

Ramiro: Quanto mais passa o tempo, mais nos damos conta de que toda essa mistura é exatamente o que nos caracteriza. Temos, sim, uma busca constante pela nossa identidade enquanto banda, enquanto artistas, mas acho que isso nunca vai mudar. Essa busca tá justamente em tentar transmitir por meio da música a nossa essência, essa nossa identidade tão complexa. Acho que, neste sentido, a nossa “crise de identidade” acaba se tornando o nosso combustível pra seguir evoluindo como banda.

MP: 2013 tem sido um ano muito agitado pra vocês e a temporada de verão na Europa foi super aproveitada com uma verdadeira maratona de shows. Como foi a experiência?

Ramiro: Foi incrível. O disco tem sido muito bem recebido, tanto pelo público quanto pela crítica aqui na Itália. Tem sido um passo muito importante pra gente. Acabamos tocando em cada canto do país, e notamos que cada vez mais a galera vem nos shows e participa da nossa história. É uma satisfação imensa.

MP: Outra novidade do período foi o lançamento dos Selton Glasses. De onde veio essa ideia? Vocês tem visto mais ações bacanas assim em outras bandas pela Itália?

Ramiro: Mauricio Stein, irmão do Eduardo, nosso baixista, é um designer de óculos que mora em Londres há alguns anos. Ele desenha óculos pra marcas bem grandes, e de todos os protótipos que são rejeitados por essas marcas, os irmãos Stein criaram uma submarca chamada Rejected Samples. Sempre fomos muito fãs dos óculos desenhados por eles e sempre tivemos vontade de fazer algo juntos. Por isso tivemos essa ideia de fazer uma linha de óculos da banda que vêm com uma material exclusivo. Cada óculos tem um QR code que serve pra baixar demos do disco Saudade. Sinceramente, aqui na Itália não vemos muitas ações do tipo, mas gostamos muito de nos reinventar e pensar em soluções alternativas pra veicular a nossa música.

MP: E para 2014, o que Selton está preparando?

Ramiro:Acreditamos que o disco Saudade ainda vai render muito. Cada vez mais, surgem oportunidades novas que imagino que em 2014 se concretizarão. Ainda é muito cedo pra falar, mas 2014 promete.

MP: Pra terminar, que bandas da Itália e outros lugares por onde vocês passaram podem ser recomendadas pro pessoal do Música Pavê?

Ramiro: Tem dois nomes em particular que recomendamos: Calibro 35 e Il Triangolo. De outras descobertas recentes e artistas não italianos que temos ouvido, podemos citar Dirty Projectors, Tune Yards, Alabama Shakes, Of Montreal, Tunng, Vado in Messico, Kishi Bashi e por aí vai.

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