Entrevista: Justine Never Knew the Rules

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Justine Never Knew The Rules tem nome de seriado americano, porém é uma das bandas que está se destacando no cenário independente de Sorocaba e região. A influência dos garotos vem de sons psicodélicos como Tame Impala e outras bandas que vocês verão durante a entrevista que fizemos com eles no Carne de Segunda, evento que acontece toda segunda-feira em Sorocaba, organizado pela Rasgada Coletiva.

Nessa mesma festa, no final de Julho, foi o lançamento do primeiro EP, que leva o mesmo nome da banda formada por Mauricio Barros, Marcel Marques (é uma incrível coincidência, porém não estou falando deste que vos escreve) e Bruno Fontes.

O meu xará começa a entrevista explicando que cada um deles tem um instrumento ao qual se dedica mais – no caso dele e do Mauricio é a guitarra, já o Bruno é baixista, mas eles revezam a bateria. Por questões de coordenação para tocar o instrumento, Bruno costuma comandar mais os tambores.

Música Pavê: Quem é Justine e que problema ela tem com as regras?

Justine Never Knew the Rules: Acho que nós somos a Justine e as regras seriam, talvez, as básicas que tudo tem que ser certinho, no seu tempo, que aquela nota teoricamente seria errada – sabe? -,  mas nós não ligamos muito para esse tipo de coisa. Nós vamos criando e tocando e, se encaixar e acharmos que soou legal, “okay”. Tem alguns casos que nem sabemos a nota que estamos tocando (risos), é verdade.

MP: Vocês acreditam no cenário da música no Brasil e acreditam que há espaço para bandas independentes?

JNKTR: Sim, nós acreditamos, sempre falamos sobre Boogarins, por exemplo, é uma das bandas que mais vimos fazer várias coisas e viajar o mundo em turnês, mesmo sendo relativamente nova. Nem a mídia os acompanha e eles estão fazendo um monte de show. O legal disso é que você não precisa estar ligado ao mainstream hoje em dia, você não precisa ser um Jota Quest para tocar, dá para ser famoso sem ser banalizado.

MP: Mainstream é um assunto interessante nos nossos dias. O que vocês acham de Lucy in the Sky With Diamonds ser o tema de abertura da novela das nove?

JNKTR: A primeira vez que eu vi, achei meio estranho, mas depois parei para pensar e cheguei à conclusão que é super legal uma música psicodélica dos Beatles tocando na novela, isso leva a música para mais pessoas. Além do mais, música boa quebra qualquer paradigma, não é porque está na Globo que é ruim, mesmo sendo na voz de outra pessoa, sabe? Tanto é que, em várias outras séries e até em novelas mesmo, tocam músicas super legais, até mesmo de bandas independentes. Às vezes, tem algumas que não são legais para nós, mas para outras pessoas sim.

MP: O som da Justine é para qualquer um? Para quem é feito o som de vocês?

JNKTR: Qualquer um consegue ouvir, agora curtir já é outro assunto. Gostar talvez não, até porque para muitos pode soar meio estranho, mas também acreditamos que algumas pessoas que não tenham interesse nesse tipo de som possam se identificar. Nós não temos um som sempre pesado, algumas músicas são mais leves, que chamam mais a atenção das pessoas. Não pensamos muito em quem queremos atingir com nossa música, nós queremos nos divertir,  fazer algo que nós gostamos e tentamos ser honestos com nós mesmos, não pensamos em fazer música para agradar algumas pessoas em particular é tudo bem natural. Além do mais, as nossas músicas é um reflexo das coisas que nós vivemos e ouvimos e, sem querer, algumas coisas podem refletir no nosso som, então em algum momento pode até ser que uma música ou outra se pareça com alguma banda, mas encaramos isso como algo normal.

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MP: É notório no som de vocês que a afinação dos instrumentos não é sempre a tradicional. Expliquem melhor como funciona as afinações que vocês usam e porque vocês decidiram usá-las.

JNKTR: Essa afinação se chama DADGAD, o Jimmy Page usava, por exemplo, ela tem um som meio celta. Tudo isso começou há muito tempo, quando a banda ainda nem estava totalmente formada, estávamos ensaiando e a guitarra, sem querer, estava afinada errado, e acabou que fizemos uma música na qual percebemos que algo estava esquisito, mas tinha ficado legal. Um tempo depois, o Maurício chegou com essa afinação que encaixou perfeitamente, pois, ficou mais estranho do que já era. O Marcel só usa essa afinação nas músicas, enquanto o Maurício alterna na afinação tradicional em algumas canções. Para explicar bem rápido a diferença da afinação DADGAD com a tradicional é só que as cordas Mi da guitarra são afinadas um tom a baixo, só isso. No fim das contas, os acordem soam diferente, com mais peso. Fazemos isso pelo fato da sonoridade mesmo.

MP: O kit da bateria da Justine é bem reduzido. Como é essa bateria e que diferencial ela traz para o som de vocês?

JNKTR: É um kit inspirado em Jesus and Mary Chain e The Tamborines, por exemplo. Eles usam, igual a nós, um surdo, uma caixa e um prato. Mas acho que quem inventou isso foi Velvet Underground, ou pelo menos eles popularizaram esse esquema de bateria, a única diferença é que eles usavam um bumbo virado para cima no lugar do surdo. Mas nós fizemos isso por limitação nossa. Por mais que o Bruno soubesse tocar um pouco de bateria, ele não é um supera baterista, entende? Além disso nós não temos bateria etc. Nós até tentamos chamar alguns bateristas para participar, mas eles acabavam atrasando o nosso lado. Eles eram até bons músicos, mas não faziam parte do nosso mundo, então não dá certo, por mais que você se esforce, não rola. O legal é que essa limitação misturada com criatividade dá para sair muita coisa boa. Com certeza, a bateria é um grande diferencial tanto no som quanto no layout da banda. Quando vamos tocar em algum lugar e deixamos tudo montado antes, a pessoa que prestar atenção no palco e ver todo aquele visual vai querer conhecer o som da banda.

MP: Vocês lançaram um EP faz pouco tempo, o que vocês mostraram nele?

JNKTR: Na época que gravamos ,tínhamos sete músicas prontas, então escolhemos as que nós mais gostávamos e que o público mostrava mais interesse nos shows e achamos que elas representavam bem o nosso som.

MP: Vocês gravam esse EP no esquema “faça você mesmo”, né? Como foi essa gravação?

JNKTR: Na verdade, a falta de grana é um dos motivos de termos feito nós mesmos. Nós não tínhamos dinheiro, mas tínhamos o equipamento para fazer, microfone, amplificador, computador. Então tudo isso misturado com a nossa vontade de passar pelo processo de gravação respeitando as nossas limitações, conseguimos tirar o máximo do nosso som. A gravação foi uma saga, nós planejamos lançar o EP em três meses, mas, no fim das contas demoramos um ano e meio. Porque, como nós não tínhamos onde gravar, costumávamos fazer a gravação na casa de alguém e sempre acontecia alguma coisa errada, queimava ampli, luz etc. Teve também uma vez que tínhamos acabado a gravação e saímos de perto e a gata sentou em cima do computador e apagou todos os arquivos. Além disso, ela deve ter apertado outras teclas que fizeram com que não desse nem para apertar crtl-z. Na verdade, nós gravamos as coisas muitas vezes. Mas, ainda assim, nós queremos fazer isso de novo.

MP: No lançamento do EP, vocês venderam algumas fitas. De onde surgiu essa ideia e como gravaram esses cassetes?

JNKRT: Nós íamos fazer o lançamento do EP e a prensagem não ia ficar pronta até a data, então não teríamos nada físico para vender para o pessoal e tal. Aí acharam lá no porão do trabalho do Bruno uma caixa de fitas virgens, com nove fitas. Usamos um tape deck que o Mauricio tem, super legal e decidimos gravá-las. Limpamos as fitas, fizemos as capas e, um dia antes do show, gravamos. O Marcel ligou o computador em que tínhamos gravado as músicas direto no tape deck para a gravação, mas tivemos que desmontar o aparelho e ficar arrumando a correia que escapava no fim de toda gravação. A ideia era mais ter algo para mostrar para o pessoal. Fizemos uns cartazes, uns adesivos e as fitas, mas, no fim das contas, venderam todas com cinco minutos de show e nós ficamos sem as nossas também.

MP: E o quais são os próximos passos que a Justine vai dar?

JNKTR: Nós estamos fazendo shows para divulgar o EP, queremos tocar fora de Sorocaba, fazer um clipe de uma música que não está no EP e lançar música novas.

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