Entrevista: Incubus

Incubus é uma das maiores entidades vivas do rock alternativo norte-americano, uma banda que conquistou o mainstream sem perder sua honestidade e tornou-se um ícone para toda uma geração que não aceitava a música enlatada dos roqueiros apaixonados em ambientações de comerciais de margarina, preferindo o tom obscuro, mas sempre divertido, da banda.

Em um final de tarde na Califórnia, após um dia de ensaios e reuniões, o vocalista Brandon Boyd falou ao Música Pavê por telefone sobre as novidades para este ano, que incluem um retorno ao Brasil para o Rock in Rio e, meses antes, o lançamento do álbum 8 – que sai em 21 de abril, mas a Universal Music já enviou aqui para o site.

Música Pavê: Parabéns pelo novo álbum! Por algum motivo, ele soa bastante jovem para mim, tem uma energia jovial. Era isso o que vocês queriam com ele?
Brandon Boyd, Incubus: Se você sacou que existe uma jovialidade, isso foi um acidente feliz (risos). Não planejamos que ele fosse assim, apenas fizemos nosso melhor para canalizar nossos sentimentos verdadeiros e nossa energia para fazer o álbum. Foi um processo extremamente desafiador, levou cerca de um ano para terminar, mas foi também muito recompensador, porque nós cavamos bem fundo, de um jeito que não fazíamos há muito tempo. E fico feliz que tenha dado certo, estamos todos bastante satisfeitos. Talvez a energia que você mencionou seja pelo fato de que nós estamos fazendo isso há muito tempo, 26 anos já, e, como começamos cedo, nós estamos em uma fase na qual não somos tão jovens, mas ainda não somos velhos. Estamos no meio do caminho.

MP: Acho que podemos dizer que Incubus é uma banda com maturidade, com experiência.
Brandon: Isso, somos uma banda experiente.

MP: E eu imagino que vocês, em turnês e festivais, acabem tocando com bandas muito mais jovens. Como é o diálogo entre vocês? Você sente que ensina algo a elas, ou que aprende nessa troca?
Brandon: Eu não faço ideia se nós conseguimos ensinar alguma coisa a alguém (risos). Espero que ensinemos. (pausa) No meu caso, eu sei que espero nunca parar de aprender, que eu nunca me torne tão endurecido a ponto de achar que já sei tudo. Uma coisa que amadurecer me ensinou é que tudo o que eu achava que sabia era besteira (risos. A cada volta que eu dou no sol, a cada ano que envelheço, eu aprendo mais e mais sobre humildade – para mim, “ser humilde” é a melhor maneira de aprender. Quando você acha que já conhece bem uma situação e sabe como lidar, é aí que o chão desaba. Tem uma música no disco chamada State of the Art que eu creio ser sobre isso.

MP: Tenho uma nova teoria, então, vai ver é essa sua abertura a aprender coisas novas que faz sua música ser sempre jovem.
Brandon: Eu gosto dessa teoria (risos). Estou sendo totalmente honesto, tá? Isso não acontece só com a música, mas com todos os nossos processos criativos. Falando de uma maneira bem pessoal, eu creio que ter uma mentalidade de “iniciante” faz com que o mundo seja sempre fascinante para mim. Por mais que eu seja, tecnicamente falando, um especialista em alguma coisa – eu tenho mais de dez mil horas de canto acumuladas -, ainda sinto que esteja aprendendo a cantar. Nós ensaiamos hoje – estamos há três semanas passando as músicas novas e renovando as antigas -, e parece que só hoje que eu me assumi como um cantor profissional (risos). Eu estou constantemente me lembrando de ser humilde nesse processo todo.

MP: É interessante como você diz que está falando de maneira honesta e pessoal, porque imagino que essa postura é a mesma que você tem quando você está compondo – aquilo que você assimila na vida é o que sai em forma de arte.
Brandon: Com certeza. É a benção e a maldição de viver em um processo criativo. Isso é minha vida, não só minha carreira, e mesmo se fosse só meu trabalho, eu ainda teria a mesma postura. Mas a questão de benção e maldição é que somos muito autoanalíticos. Observamos de uma maneira fria e direta todos os elementos do nosso ego – os bons, os ruins e o que estiver no meio -, e isso chega a ser assustador. O lado positivo é que você cria uma grande auto consciência, que é uma das coisas mais incríveis no mundo, e o negativo é que você pode ficar tão focado em um só aspecto a ponto de virar uma neurose (risos). É fácil cavar sua prória cova.

MP: Falando nisso, você mencionou que o processo criativo de 8 foi desafiador. Voltando nesse assunto, o que foi mais desafiador na produção?
Brandon: Foi sim, porque… (pausa) Nós tínhamos muito mais músicas que planejávamos gravar para o que seria o EP Trust Fall (Side B), nós analisamos o material e ele era legal, mas apenas isso, não era ótimo. Tivemos aquele momento de olhar para algo que foi feito com tanto empenho e falamos para nós mesmos: “Isso não é bom o bastante”. Então jogamos tudo fora e começamos do zero, o que é muito difícil de fazer, especialmente se você se empenhou tanto na produção e fala: “Merda, não ficou bom o suficiente”. Voltei para o estúdio e comecei a reescrever tudo. Acho que reescrevi todas elas pelo menos umas cinco vezes. A única que sobreviveu na versão original, apesar de alguns ajustes, foi State of the Art, que eu mencionei. E tem uma música no disco que chama When I Became a Man, que é meio que uma piada, ela foi toda improvisada. Nem era para estar no álbum, mas estávamos mixando o disco com Skrillex e mostramos a improvisação, ele olhou para mim super sério e disse: “Isso precisa estar no álbum”. Todos rimos, e ele disse: “É sério”, então acabou entrando (risos).

MP: Como é para vocês o exercício de deixar seu som progredir, mas ainda manter sua identidade como banda?
Brandon: Acho que essa é uma das coisas mais desafiadoras para um artista. Mas creio que a maneira de fazer isso é uma mera consciência de que ficar estagnado no seu processo é o que vai matar sua criatividade, da mesma forma que muito ego também é perigoso. Trabalhar com criatividade te faz acordar, te faz pensar “nós precisamos estar fora de nossa zona de conforto”. Você pode até voltar para ela, mas só para então tomar um novo rumo. Às vezes isso significa um espaço maior entre os lançamentos.

MP: Isso era exatamente algo que eu queria perguntar. Vocês estão juntos há 26 anos, e esse é seu oitavo álbum. Quando comparamos Incubus a outras bandas, a maioria delas teria mais títulos lançados. Por que isso?
Brandon: Bem, nós temos os EPs, DVDs, discos ao vivos, temos os trabalhos solo…

MP: Não me entenda mal, sei que vocês são muito produtivos!
Brandon: (risos) Acho que aprendemos que a musa, ou a inspiração, não pode ser forçada. Ao menos, não para nós. Sempre que tentamos forçar esse processo, sai algo terrível, sem verdade, sem autenticidade. Aprendemos que, se damos um tempo, a inspiração volta. Às vezes é rápido, às vezes é um ano ou mais ainda. Mas sabemos que, se não temos uma boa ideia para um álbum agora, não tem problema, vamos fazer outras coisas.

MP: Para terminar, vocês estão voltando ao Brasil novamente neste ano, o que é ótimo.
Brandon: Sim! Acho que é pelo menos nossa quarta vez no país. Nós amamos o Brasil, não tem como enfatizar mais isso. O público brasileiro é um dos melhores no mundo.

MP: E o que te anima mais por poder vir desta vez e mostrar as novas músicas?
Brandon: Acho que será nosso primeiro Rock in Rio no Brasil. Já tocamos RiR em outros países, mas sempre quis tocar no original, então será algo como conhecer os pais da sua namorada (risos), agora a coisa vai ficar séria.

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