Entrevista: Duda Brack

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Havia muita expectativa para o lançamento do primeiro álbum de Duda Brack. O jeito que as coisas se encaminhavam, como estavam sendo construídas, sempre me soou como planejado e o mais correto a se fazer.

A primeira vez que conversei com a Duda foi exatamente sobre seu projeto de montar sua banda e lançar o seu primeiro álbum, É – e isso faz quase dois anos em um show no Solar de Botafogo. O tempo passou e, neste ano, o que era um projeto já fora do script se tornou algo muito maior do que qualquer pretensão, minha e talvez dela também.

Ela montou nesse tempo, desde o dia que nos conhecemos, uma banda afiadíssima e cheia de atitude – Gabriel Ventura (Ventre), Gabriel Barbosa (Posada e o Clã e SLVDR) e Yuri Pimentel (Rua) –, o que trouxe uma característica única à sua MPB roqueira.

O Música Pavê trocou uma ideia com Duda Brack para saber mais sobre sua música e suas pretensões.

Música Pavê: É possível notar uma série de características/referências nas suas músicas. O que a sua banda trouxe de diferente nesse aspecto?

Duda Brack: Ventura trouxe a sujeira, a visceralidade, a intensidade. Ventura é alma. Barbosa trouxe a densidade, a dançabilidade, o punch. Barbosa é corpo. Yuri trouxe a subversividade, o dinamismo, o centro. Yuri é espirito. Os três têm personalidades e assinaturas muito peculiares, por conta de uma linha de raciocínio criativo que foge ao óbvio. Escolhi os três por conta disso, e por perceber neles (assim como em Bruno [Giorgi], produtor do disco) uma mesma busca que a minha. Mas, me parece que essa banda nesse contexto é que é, por si só, o diferente. Saca? Quando eu procurei eles para a gente começar a tocar juntos, Ventura me respondeu: “massa, mas eu não sei se eu sou o cara certo para você…”. Aí eu respondi: “e é por isso que eu quero que você seja!”. Aí ele entendeu tudo e mergulhou na parada. A minha proposta era essa desconstrução. Acho que eu consegui fazê-los tocarem canções que, inicialmente, não seriam do universo deles, e consegui trazer para esse “universo mpbóide” (que é das composições) um lance que não é o mais corriqueiro. Acho que o grande diferencial desse trabalho é esse diálogo de elementos de vários universos, que acaba resultando numa linguagem “híbrida” (e é isso que eu gosto de perseguir).

MP: Duda, quais são suas inspirações?

Duda: Acho que esse disco tem um pouco de Fiona Apple, um pouco de Pink Floyd, um pouco de Gal 70, um pouco de Radiohead, um pouco de Ana Cañas, um pouco de Ney Matogrosso, um pouco de Caetano, um pouco de Jeff Buckley, um pouco de Nação, um pouco de The Dead Weather, um pouco de Portishead

MP: De onde veio essa explosão de musicalidade?

Duda: Não sei, rs. Deve ser fruto do encontro entre as musicalidades que habitam nesse disco, né? (Os compositores, a banda, o produtor y yo).

MP:  Como foi o processo de produção de É?

Duda: Primeiro veio a chegança das canções que compõe o disco. Todos os compositores que gravei são amigos: artistas com os quais eu estabeleci trocas intensas, que conheço a obra, e pude ir “pinçando” as coisas que me interessavam. Durante esse processo, ocorreu também um processo meu (voz e violão) de compreender o que cada canção representa para mim e o que eu represento para cada canção. Isso me possibilitou já imprimir o meu olhar e a minha personalidade sobre as canções, e distanciar do olhar dos compositores. Foi assim que eu apresentei ela aos meninos quando formei a banda. Sobre o meu ajuntamento com os músicos: tudo começou com o um pedido de show que, depois, acabou caindo, mas a gente gostou tanto de tocar junto que seguiu desenvolvendo uma pesquisa de criação em cima desse repertório. Passamos uns oito meses ensaiando na sala da casa do baixista, e quando achamos que já estávamos com algo sólido e coeso em mãos, chamei Bruno Giorgi para produzir. Fizemos quatro dias de pré-produção com Bruno, que lapidou os arranjos e fez com que a nossa bagunça soasse organizada. Gravamos as bases ao vivo, num estúdio aqui no Rio que chama Tenda da Raposa. Depois gravamos complementos (violão da faixa 01, percussões da faixa 02, piano da faixa 04, baixo acústico das faixas 04 e 05) e vozes – muita coisa em casa, e algumas no estúdio O Quarto. Depois Bruno mixou e masterizou também n’O Quarto.

MP: Como está sendo a repercussão do álbum? Quando vamos ter o primeiro clipe?

Duda: Cara, tô bem surpresa com a repercussão do disco. Estou bem feliz. As pessoas estão entendendo rápido, e abrindo espaço para abrigar o trabalho. Toda semana sai uma matéria bonita, todo dia recebo mensagens na fanpage, no Instagram, no YouTube…  Sobre clipe: Já estamos doidos para conseguir trabalhar nisso, mas isso envolve orçamento e tempo. Estamos trabalhando no lançamento do disco físico e nos shows. O foco está nisso agora. Como eu sou muito-virginiana-louca-freak, eu só vou querer fazer quando eu puder fazer exatamente do jeito que eu quero, e quando eu souber exatamente o que eu quero propor estética e artisticamente – como foi quando desenvolvemos os “teasers-art” para o pré-lançamento, eu e Flora Pimentel.

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MP:  Seu álbum é pura catarse, é experimental, tradicional e ao mesmo tempo moderno – Eu amei o seu álbum. Como você avalia a MPB hoje? Você acha que alguns cantores estão arriscando pouco em seus trabalhos? Há mesmice na MPB?

Duda: Ei, que alegria! Obrigada. Fico feliz demais que você tenha gostado e fiquei bem empolgada com o que você disse sobre o álbum ser experimental, tradicional e ao mesmo tempo moderno. Acho que você capturou a aura do trabalho, porque realmente tem esses três elementos envolvidos na construção do trabalho: sustenta a tradição das canções no repertório, mas subverte o modo como estas são abordadas, experimentando novos caminhos e possibilidades. Respondendo a sua pergunta: sim e não. Acho que tem muita mesmice sim, em sua maioria, e isso um pouco me desinteressa – porque não vai ao encontro da minha busca pessoal – e um pouco eu relevo, porque acho importante que haja também a linha de continuidade do que já foi feito, e que, sobretudo, haja uma multiplicidade de propostas diferentes. Mas eu acho que tem gente (uma minoria, mas tem!) fazendo coisa nova, diferente e saindo do lugar comum sim. Só que tem pouca gente percebendo… E acho mais: acho que a gente precisa se libertar um pouco desse “ranso MPB”, e perceber que hoje não existe mais divisórias e nem catálogos na música. Talvez isso ajude as pessoas a fazer música pensando no que se quer provocar, e não em pertencer à um nicho, tocar na novela ou no rádio, e coisa e tal e tal e coisa…

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