Entrevista: Cambriana

Os goianos do Cambriana (cujo nome significa explosão de vida, fato este que será explicado ao longo da entrevista) acabaram de lançar o clipe de The Sad Facts, do único trabalho da banda House of Torelance, no YouTube na terça-feira (25) e, dois dias depois, o vocalista Luis Calil concede uma entrevista para o Música Pavê. Desde o final de 2010, a música brasileira é agraciada com uma das melhores e mais contundente banda de rock, folk, pop do país (chame do que quiser, o que interessa é que é bom!). Todo o projeto começou no quarto de Calil, que convidou outros músicos para dar continuidade nas gravações e nas produções, e desde então, o grupo vem recebendo centenas de elogios pela mídia nacional e internacional (Rolling Stone, Monkeybuzz e Beats Per Minute, dos Estados Unidos). Não sou a favor de fazer comparações de banda X com banda Y, mas é inevitável não sentir melodias sutis de Arcade Fire e Belle and Sebastian. Mesmo que vocês não concordem com as semelhanças, isso não faz muita diferença, porque o Cambriana veio para ficar – e vai, porque tem músicas excelentes.

The Sad Facts

Música Pavê: Eu li que o projeto começou com Luis Calil em Goiânia dentro do quarto e foi se desenvolvendo com a participação de outros músicos. Como aconteceu este insight para criar o Cambriana? O objetivo era apenas gravar um disco com os amigos bem feito ou era formar uma banda mesmo e sair tocando?

Luis Calil: A ideia era mesmo formar uma banda e sair tocando. Demorou mais de um ano trabalhando duro pra compor e gravar as canções do disco; se o projeto fosse só um hobby, eu teria desistido depois de 43 minutos. Hobby tem que ser agradável, tipo observar pássaros ou colecionar latinha de cerveja. Compor é cansativo e angustiante, e eu acho difícil imaginar que alguém consiga alcançar uma certa competência musical sem levar a ideia a sério.

MP: Você diz que hobby tem que ser agradável. Compor as próprias canções, tocar e divulgar não são tão agradáveis? A ideia é trabalhar exclusivamente com o Cambriana ou isso é uma utopia?

Calil: O ideal é que a gente pudesse concentrar somente na Cambriana e conseguisse viver disso. Na prática, essa possibilidade é uma incógnita. Mas fazer música boa e relevante é um trabalho que eu não acho que seja compatível com outros tipos de compromissos profissionais. Não dá pra trabalhar das 8 as 18 no escritório e chegar em casa com o pique pra ficar fazendo firula num instrumento por horas e horas. Não vai restar energia física ou mental pra fazer isso virar algo que seja realmente especial. Então, pra mim, é meio que tudo ou nada. Ou a banda “dá certo” ou ela morre de vez.

MP: A banda está “dando certo” como você planejou?

Calil: Ainda é muito cedo pra saber. Banda que “dá certo” é rara, e isso acontecer em menos de um ano de vida é mais raro ainda. Mas até agora a resposta do público e da crítica tem sido muito boa, o que pode ser um sinal de longevidade.

MP: E o que te levou a gravar um disco em inglês?

Calil: Acredito que foi o fato de eu ouvir muito mais música cantada em inglês do que em português. O inglês virou meio que a língua “natural” da música pop pra mim, e a ideia de cantar em português me pareceu extremamente esquisita.

MP: Quais foram os desafios dos músicos que entraram durante a gravação?

Calil: O único desafio de verdade foi gravar bem as músicas. O Wanderson, o Israel e o Rafael, que foram os primeiros a se envolver no projeto, já eram todos os amigos e a gente já tinha um entrosamento em termos de gosto musical, então não houve nenhum processo de “adaptação”. O chato da gravação foi o chato de qualquer gravação: ficar todo mundo trancado várias horas numa sala pequena e abafada, o barulho do metrônomo invadindo a sua mente e assombrando seus pesadelos, etc.

MP: Houve processos de produção com todos ou você assumiu a produção de tudo e criou baseado nos gostos pessoais?

Calil: A maior parte da produção foi minha, mas os outros integrantes que entraram nessa época também contribuíram algumas ideias – principalmente o Wanderson, que se juntou bem cedo, acompanhou o desenvolvimento das demos e sempre dava sugestões. Têm duas músicas do disco, a Waitress e a Invicto, que começaram a partir de idéias dele.

MP: A intenção sempre foi lançar o álbum na Internet ou surgiu a ideia de lançar fisicamente? Os novos caminhos do mercado da indústria fonográfica pesaram nesta decisão?

Calil: O plano sempre foi lançar o álbum na Internet, mas agora estamos planejando uma versão física também, já que muita gente pergunta e pede isso. Não acho que os CDs vão durar muito tempo, e economicamente, não há muita vantagem pras bandas, mas eles ainda tem um valor sentimental pra muita gente. Também estamos pensando em fazer vinil – esse sim tem características só dele que dão um charme especial, como o espaço grande pra exibir a arte, o som distinto do próprio vinil, etc. É um formato que ainda vale a pena investir.

MP: Há planos para clipe, vídeos ao vivo ou qualquer outro material em vídeo?

Calil: Sim, em breve. Nós enrolamos pra trabalhar em material de vídeo porque tinham que ser coisas que valiam a pena. Clipe feito só pra “ter clipe” não costuma ser interessante ou útil. Se for pra fazer, a gente vai tentar fazer o mais legal possível.

MP: Quais os próximos shows?

Calil: Pretendemos tocar mais em SP e BH nos próximos meses. Tem também outras cidades que a gente ainda não visitou, tipo o Rio, Porto Alegre, etc. Devemos marcar coisas por lá em breve.

MP: Calil, pergunta óbvia e corriqueira: de onde surgiu o nome Cambriana?

Calil: Foi ideia do Wanderson. A gente queria um nome onde a palavra por si só soasse legal, e que fosse pronunciável tanto em português quanto em inglês. Depois de meses jogando todo tipo de opção na parede, apareceu “Cambriana”, que de quebra tem um significado rico: é a era geológica onde a vida “explodiu” e se diversificou violentamente, e também a era onde ocorreu a primeira extinção em massa de espécies. Essa parte de extinção a gente prefere ignorar (risos).

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