Entrevista: Boogarins

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A banda goiana Boogarins vem causando barulho no mundo da música – não só aqui no Brasil, mas também no exterior. Contratada pela gravadora norte americana Other Music Recording,  sua música Lucifernandes foi considerada uma das melhores de 2013 por diversas publicações, como a revista Rolling Stone, e ontem os meninos foram confirmados no Primavera Sound, tradicional festival de Barcelona, além de presença confirmada no SXSW e mais turnês fora do país em breve.

Música Pavê teve a grande oportunidade de trocar uma ideia legal com a banda. Veja a conversa!

Música Pavê: As letras das músicas de As Plantas que Curam são simples, mas muito bem compostas. Contam uma história em poucas palavras, mas é facil perceber o sentimento que existe por trás. Como vocês fazem para conseguir unir o som e a letra (ou história) da música? Primeiro vem a letra e depois o som ou trabalham tudo ao mesmo tempo?

Fernando: É mais comum vir os dois juntos mesmo, melodia e letra. Acho que o Benke tem mais facilidade de compor e já pensar na coisa toda, tipo bateria e a linha dos outros instrumentos, na textura que a canção vai ter sabe. Existem alguns versos que são exceções nesse lance de fazer tudo junto, um que eu consigo me lembrar e que é muito forte pra mim é o “Correr por fora mas sempre ao centro”  de Despreocupar. O que eu acho melhor nessa coisa de trabalhar letra  melodia ao mesmo tempo é porque fica mais fácil de dar uma certa liga na música pra poder transmitir melhor a onda da canção.

MP: Se lermos as letras de vocês separadas da música, é como se estivéssemos lendo uma poesia mesmo. Vocês se sentem influenciados nos livros ou poemas que leem na hora de compor as canções? Ou é algo mais natural

Fernando: Rola uma influência sim, dos lances que a gente acabou lendo, com certeza. Mas não chego a considerar poesia mesmo, sei lá eu o que é poesia de verdade, pra mim as letras das músicas soam mais como pedaços de conversas, aquelas profundas que são meio raras de  você ter com alguém e acaba falando de sentimentos e ideias fritas que pipocam na sua cabeça e no seu peito e a outra pessoa ainda te dá corda pra falar mais.

MP: Fazia tempo que o Brasil não via uma banda com um som psicodélico se destacar tanto. Essa característica é uma coisa que vocês buscavam como banda ou algo que acabou acontecendo durante o período de criação?

Benke: Realmente aconteceu. Não exatamente sem querer, mas era inevitável, tendo em vista o que sempre escutamos. As canções tem formas/métricas bastante recorrentes ao que os anos 60 definiu como “canção”. As músicas do As Plantas não tem grandes imersões instrumentais, noise, compassos estranhos e qualquer outra coisa que defina “psicodelia” de cara. Gosto de pensar que são belas canções e só. A psicodelia, pra mim, é uma questão de intensão e interação do ouvinte com o som. É o que faz Minha Menina soar como uma grande canção “psicodélica” pra você, mas pra sua mãe e avó é uma bela canção-pop-brasileira somente, entende? Eu me sinto meio bobo falando a palavra ‘psicodélico/psicodelia’ tantas vezes, hehe.

MP: “Lucifernandes” foi considerada uma das melhores de 2013 pela revista Rolling Stone Brasil, assim como em várias outras publicações. Benke, você comentou que a letra começou a ser feita na época de colegial de vocês. Como vocês se sentem vendo uma música que foi criada há tanto tempo sendo reconhecida hoje? Aqueles garotos no colegial imaginavam que um dia a banda estaria na Rolling Stone?

Benke: É surreal se pararmos pra pensar dessa forma, hehe, mas com certeza já tínhamos noção do que nos fazia bem àquela altura da vida. Quando o Dinho me mostrou a gênese de Lucifernandis, em 2009, outra música goiana era considerada o hit do ano pela Rolling Stone: My Favorite Way do Black Drawing Chalks, que ficou em 1º. Sei lá, parece que tudo isso foi ontem. A gente gostava muito das coisas que tocávamos e isso meio que bastava.

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MP: Como tem sido a experiência de levar as músicas de As Plantas que Curam para os palcos?

Benke: Tudo soa bem mais pesado e completo pra gente. Desde o primeiro show, viemos mudando os arranjos, sempre procurando surpreender quem estiver na platéia e não nos entendiar. Tocamos algumas músicas novas nos shows, mas acho maravilhoso tocar as músicas do disco e sentir a resposta da galera que já espera pelas músicas.

Fernando: Bicho, é onda boa de mais. Eu sou meio bobo e pergunto sempre pro povo depois do show o quanto gostaram em relação à gravação e outros lances. É bom ver gente que gosta do disco aprovar a versão ao vivo das músicas também, eu acho que o som fica mais enérgico e é um prazer sem limites poder ver a reação das pessoas durante os shows.

MP: Suas músicas estão sendo bem reconhecidas no exterior. Já pensaram em cantar em outras línguas?

Benke: Na mesma leva do As Plantas, nós também havíamos escrito algumas coisas em inglês, mas não gravamos naquela época por não acharmos interessante misturar as canções em português com inglês. Ainda não temos planos, nem material suficiente pra fazer um lançamento todo em inglês, mas quem sabe um dia, né?

MP: Vocês assinaram com o selo Other Music Recording. Por que optaram por um selo gringo e não brasileiro?

Benke: Não foi bem uma questão opção, né? hehe. O contato da Other Music conosco chegou antes de mesmo do primeiro show, foi uma loucura só na época. Desde então, tentamos distribuir o álbum aqui no Brasil, mas é muito mais complicado do que fazer o mesmo lá fora. Eles já tem um mercado estável em relação a música alternativa lá e se dão o direito de investirem no que gostam. Aqui, são raros os selos que vão assumir os gastos de lançamento sozinhos. Não estou reclamando, só são duas realidades diferentes. Enfim, esperamos ter o As Plantas nas lojas aqui no Brasil logo!

MP: 2013 foi muito intenso pra banda, mas este ano parece já estar começando com tudo. O que podemos esperar da Boogarins nos próximos meses?

Benke: Tem clipe novo pra sair, turnê internacional pra acontecer, novo disco sendo produzido. Dá pra esperar mais correria e trabalho da gente. E a gente espera poder tocar cada vez mais em lugares novos e conhecer gente nova.

Curta mais de Boogarins e de outras entrevistas exclusivas no Música Pavê

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