Duda Beat: “São várias coisas dentro do meu som”

foto por ana alexandrino

Quem acompanha a música brasileira de hoje certamente foi mordido por Bixinho há alguns meses. A faixa, contemporânea com um quê de regionalidade (a começar por seu nome) revelou ao país o talento e a voz de Duda Beat, pernambucana radicada no Rio de Janeiro que lançou seu disco de estreia, Sinto Muito, em abril. Por telefone, ela contou ao Música Pavê sobre o contexto em que o álbum foi feito e algumas das escolhas da produção – comandada por Tomás Tróia.

Como eu vinha muito passar férias no Rio, porque tenho família aqui, já era amiga de todo mundo: Alice Caymmi, Lucas Castello Branco, Tomás, Diogo Strausz – eles tinham uma banda chamada R.Sigma -, eu cresci com esses meninos, a gente andava muito junto”, conta a artista, “então, eu fui me relacionando com a música assim, além do fato de que todos os caras por quem eu me apaixonava eram da música (risos)”. Após ser convidada por Castello Branco e Letícia Novaes (Letrux) para seus discos e shows, Duda percebeu que poderia trabalhar suas próprias composições: “Há dois anos, fui a um retiro espiritual e saquei que eu tinha que fazer a minha parada. Eu precisava me colocar no lugar do cara por quem eu sempre me apaixonava – o disco é uma autoanálise, além de uma autobiografia. Eu já tinha escrito umas coisas antes, liguei para Tomás, que eu sabia que era um grande arranjador, e falei das minhas músicas”.

“Eu tinha umas quatro, a gente foi trabalhando e viu que ia virar um disco”, relembra ela, que continua: Nesse processo inteiro tava com a gente também Lux Ferreira, que toca com Mahmundi (que é também nossa amiga), ele fez a co-produção do disco, Gabriel Bittencourt, meu primo, que também tocava com R. Sigma, Diogo Strausz mixou umas faixas, Patrick Laplan, que é um gênio, gravou os baixos, Pedro Garcia, que toca com Planet Hemp, mixou e masterizou as outras faixas”.

Todos esses trânsitos de criatividade geraram um álbum bastante robusto em sua estética. Como ela explica, “são várias coisas dentro do meu som – tem um rap, um trap, uma música latina, um reggae, uma sofrência brega”, a ponto também da nomenclatura “indie” nem sempre fazer muito sentido ao descrever seu trabalho. “Indie vem de independente, e isso eu sou, mas também estereotipa o tipo de som que a pessoa faz, e eu acho que meu som é muito mais pop”, conta Duda, “mas não é mainstream, eu brinco que ele é ‘meio stream’ (risos). Acho que todo artista sonha em estourar, e minha expectativa era que todo mundo ia amar Bixinho, que ia ser uma coisa, e aconteceu na proporção que tinha que ser – e eu sou muito grata por isso. Eu, que não era conhecida, lancei um disco há três meses e já tenho meio milhão de plays no Spotify, pra mim já é um grande sucesso”.

Das escolhas criativas, uma bastante pertinente em Sinto Muito e em seu trabalho como um todo é uma referência forte do Pernambuco onde ela nasceu e cresceu. “Era uma preocupação minha muito grande ter Recife na minha música”, conta ela, “eu sempre falava isso com Tomás, que eu queria muito que tivesse alguma coisa, e ele falava ‘Mô, quando você cantar, todo mundo vai saber que você é de Recife, você tem muito sotaque’ (risos). O nome também Beat, eu peguei do Mangue Beat, um puta movimento da minha terra que eu cresci ouvindo. A minha referência tá tanto no sotaque, quanto no nome. Espero fazer um frevo, alguma coisa assim pra ficar mais legível, pras pessoas entenderem isso”.

Ainda sobre suas referências, ao ser perguntada sobre o que ouvia na época da produção do disco, ela comenta que não queria se “contaminar”, então ouvia pouco além de algumas referências para a produção, como Nicolas Jaar, Kali Uchis e Sade. “Sou bem popzinha (risos), amo Kendrick Lamar, amo Beyoncé, Rihanna. Amo, amo, amo anos 80, sou muito fã de George Michael“. Além disso, ela ouve muito a música de seus amigos, destacando Francisco, el Hombre e Braza como o quemais tem escutado ultimamente. Bem humorada, ela conta: “Meu pai é roqueiro, fã de Pearl Jam, e ele falou ‘amei tudo, mas sinto falta de um solo de guitarra’ (risos), tipo um Whitesnake, sabe? Eu acho muito foda também, eu disse ‘no próximo disco, vou colocar um solo só pra você’ (risos)”.

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