Clarice Falcão: Complicada Imperfeitinha

clarice falcão

Várias coisas podem ser disfarçadas com o humor – a beleza ou a feiura, as verdades e as mentiras, ou as vontades e os medos, a lista poderia ser infinita. Clarice Falcão se reveste de muita coragem com pitadas de outras qualidades na hora de pegar papel, caneta e seu violão para fazer suas músicas, sempre cheias de irreverência.

A moça de voz doce e olhos grandes despontou com vídeos caseiros pela Web e, logo depois, ganhou fama como parte do elenco do humorístico Porta dos Fundos, em 2012. Neste ano agora, Clarice lançou seu primeiro álbum, Monomania, estendendo seu bom humor para composições que, por menos que tentem ser engraçadas, o tem como base. Isso gerou uma grande popularidade da moça para além da Internet e garantiu seu lugar entre O Som de 2013.

Um dos outros temperos em sua música e senso de humor é a sinceridade. Aquela famosa mania de usar o “eu tô brincando” para dizer verdades que você não falaria sem uma desculpa. “Ei, se eu falar que foi por amor que eu invadi o seu computador, você pega um avião?”, não é o tipo de coisa que se ouve todos os dias e é bem provável também que alguém que faça isso não fique impune, mas aí ela chega e termina com: “eu queria tanto que você não fugisse de mim, mas se fosse eu, eu fugia”, uma honestidade brutal que a absolve de qualquer seriedade.

Assim como em Macaé, acontece no vídeo Com Quem Será, do Porta dos Fundos, no qual, Clarice com a melhor das intenções acaba com a felicidade do Parabéns a você de uma companheira de trabalho. Sinceridade demais, às vezes, não é bacana, né Clarice? (Mas sempre nos diverte!)

Mas ela também consegue narrar seus sentimentos com seu humor – e muito bem. Como a história que ela conta em Oitavo Andar: “Quando eu te vi fechar a porta, eu pensei em me atirar, pela janela do oitavo andar. Invés disso, eu dei meia volta e comi uma torta inteira de amora no jantar” (quem nunca, né?).

Nessa canção, ela mostra nos mínimos detalhes tudo o que sentiu e o que queria que acontecesse com ela e com o seu “namoradinho”. Outra música de amor bem sincera é Um só, na qual ela, mais uma vez, narra tudo o que sente por seu amor, mas, no fim da história, não há comicidade e ela alcança o ápice da sua sinceridade quando diz: “O meu desespero é que quando acaba você fica inteiro e eu fico o pó”.

Por outro lado, encontramos também uma Clarice com umas sacadas típicas de um humor calculado, espertinho. Um dos exemplos que temos para mostrar para vocês é a parceria da morena com SILVA na canção Eu Me Lembro. “A blusa dela tava do lado errado. Ele adorou o jeito que eu me vesti” – assim, o dueto conta uma história com o mesmo final, desde dois pontos de vista diferentes, como cada um se lembra que ela ocorreu. É cômico comparar as duas versões, mas é um senso de humor diferente, menos óbvio e bem sacado.

Da mesma forma e mostrando uma esperteza mais marota, em Eu Esqueci Você ela narra como está bem e contente sem seu ex-namorado. A parte interessante da letra é quando ela diz: “Desde que eu te esqueci, eu tô tão outro alguém que eu nem sei porque é que você não vem” – pausa dramática – “só pra você saber, eu esqueci você”.

Outro recurso que Clarice sabe usar na hora de nos entreter é unir referências populares para dizer algo engraçado, o que também faz parte da sua esperteza. É o caso da música A Gente Voltou: “Você que tá no Titanic, parou o chilique, que gente voltou/Não entra na bad, Romeu, Julieta morreu mas a gente voltou”.

Com um timbre agradável e entoando melodias pop ao violão, Clarice sabe criar uma aura quase angelical ao seu redor, e a graça vem justamente quando essa imagem é quebrada. Nos momentos em que assume sua faceta mais meiga, o resultado é encantador, tipo a filha caçula que consegue dobrar o pai pra fazer exatamente o que ela quer, ou usa o charme pra não levar bronca na aula. No campo do romance, é com sua doçura que a moça sabe conquistar, e consegue fazer as declarações mais fofas dos versos mais prosaicos, como “Hoje falei pra mim, jurei até, que essa não seria pra você e agora é” (de Monomania).

E, como dissemos, toda sua doçura fica ainda melhor quando é atrelada a uma certa loucura nas letras, nos olhares e na métrica e, de repente, você não sabe se corre pro abraço ou se sai correndo na direção oposta. É uma fofa, mas você teria que pensar duas vezes antes de chamar pra sair.

Em uma época em que a música pop tenta chamar a atenção a qualquer custo, com pouca roupa, muitas línguas de fora e um grande fetiche por modas e tendências, Clarice Falcão nos relembra que voz, violão e bom humor ainda são ingredientes infalíveis para divertir qualquer um. Que venham muitos mais anos de sinceridade, esperteza, doçura e loucura na carreira da moça.

Curta mais de Clarice Falcão e da série O Som de 2013 no Música Pavê

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