Fotógrafo: Rafael Kent

Toquei a campainha daquele apartamento no centro de São Paulo e logo Rafael Kent atendeu a porta com uma daquelas canecas em formato de lente de câmera fotográfica e com uma camiseta da banda Incubus, enquanto o novo disco da Vivendo do Ócio tocava alto, vindo lá do escritório. Com aquele jeito tranquilo que os baianos tem, ele me mostrou sorridente seu estúdio e escritório (forrado de pôsteres e fotos) de onde ele comanda a OKENT filmes, sua produtora. Eis um cara que uniu suas duas paixões, música e imagem (fotografia, design e vídeo) e sinceramente ama o que faz – como ele fez questão de me dizer mais de uma vez. Kent ingressou na fotografia não muito cedo, aos 27 anos, mas em pouco tempo construiu portfólio e olhar que muitos precisariam de mais tempo para adquirir. Confira como foi nossa conversa sobre sua carreira e estilo.

Música Pavê: Como você ingressou na fotografia de música?

Rafael Kent: Primeiro, eu estudei Turismo, porque eu achava que era algo que me interessava e era fácil passar no vestibular. Fiz três anos só e larguei, para o desespero da minha mãe. Aí, estudei algumas possibilidades e escolhi fazer Design Gráfico. Comecei a estudar e, ao mesmo tempo, fui trabalhar com algumas bandas de Salvador e uma delas, a Jonny Way, começou a dar certo. Aí eu tranquei a faculdade, por que sabia que era com música que eu queria trabalhar, mas aí rolou uma briga na banda e eu parei de trabalhar com eles. Vim pra São Paulo, terminei a faculdade e fui trabalhar na área, mas vi que não nasci praquilo de escritório, bater o ponto, fazer lobby com o chefe, sabe? Foi quando uma banda chegou pra mim e me chamou pra trabalhar com eles, aí eu pedi demissão da agência e fui. Um belo dia, eles precisavam de uma foto e, como eu tinha estudado fotografia no curso de Design, eu disse “eu sei fazer”. Peguei uma câmera compacta que eu tinha e fui lá fotografar. E não é que eu fiz legal, mesmo com uma câmera ruim? (Aponta para o gravador) Viu, galera, como você nem sempre é o equipamento que faz a foto ficar legal? Aí eu falei “vou fazer isso”. Pedi uma grana emprestada pra minha mãe, e ela falou: “Meu Deus, esse menino vai tentar mais uma coisa nessa vida?”, aí eu peguei, comprei a câmera a não parei mais. Como a maior parte dos meus amigos eram ou produtores, ou de bandas, eu comecei a fazer fotos para eles.

boss in drama e christel

brothers of brazil

MP: E daí, com muito suor, as portas foram se abrindo?

Kent: Eu acho que… Suor sim, até hoje é, mas eu acho que também paixão pelo o que você faz, né, cara? Minha maior motivação é ver as pessoas gostando, os artistas e bandas gostando, eu gostar do que eu faço. Termino de gravar um clipe e quero correr pra casa pra ver como ficou, editar, ver pronto, porque eu amo o que eu faço. E isso faz muita diferença, sacou?

bianca jhordão (leela)

lucas silveira (fresno, beeshop, sir sir)

MP: O seu site fala que você faz “uma fotografia sem regras, ultrapassando os limites de onde quer que vá”. O que essas coisas significam pra você?

Kent: Eu acho que quando você estuda muito, faz muitos cursos técnicos pra poder entender a câmera e fotografia (abertura, temperatura de cor, fps, iso, vectorscope, enfim), eu acho que você fica tão preso a esses conceitos que você, às vezes, acaba se esquecendo de ousar. E eu acho que a parte legal, pra qualquer pessoa que é autodidata, é justamente isso, é começar a fazer as coisas mais por feeling, instinto e gosto pessoal e ousar. E você acaba se soltando, porque não tem vícios de técnica e de linguagem, e isso é muito legal, sacou? Acho que isso de ser autodidata me ajudou muito a ser livre, ainda mais em um mundo onde tudo já foi feito. É sempre bom poder estudar, mas acho que a paixão vem primeiro.

pablo grotto

vivendo do ócio

MP: Como você encontra o conceito da foto quando vai fazer promo de bandas?

Kent: Primeiro, eu procuro saber o que a banda acha legal, quero conhecer as referências que eles já tem e mostro as que eu já tenho também. Isso sempre constrói algo legal pra mim e pra banda, por que a gente acaba aprendendo algo novo um com o outro. Eu tenho uma pastinha só com referências aqui, e ter isso ajuda bastante no meu trabalho. Então é assim, é trocando referências com as bandas.

MP: E na fotografia ao vivo, o que você mais busca nas suas fotos quando fotografa shows?

Kent: Os momentos mesmo, né? Você captar o melhor momento, a luz mais legal, um contra-luz (que eu gosto muito). Isso é rápido e não vai acontecer de novo, sacou? Aí eu clico muito em shows, é uma parada que eu aprendi com um casal pra quem eu fiz assistência (do lost.art.br/) e que tem uma pegada de fotojornalismo, em que é preciso clicar muito pra não perder nada. Eu acho que o que vai deixar uma foto de show boa é um bom enquadramento de um momento expressivo (com uma boa luz, obviamente), às vezes de um ângulo diferente, conforme der.

seu jorge

nação zumbi

MP: Como você define seu estilo?

Kent: Olha, acho que o meu estilo pode ser visto no clipe do Boss in Drama. A gente fez o que ninguém esperava, não teve glitter, luxo e noite, foram pessoas dançando na sala de casa, e isso é uma imagem forte. Menos é mais, sacou? Não que eu não goste de grandes produções, mas gosto que elas tenham poucas coisas. Gosto de imagens fortes, ideias fortes, conceitos fortes.  Até no clipe do Sir Sir, que é grande, não é “pomposo”. Ele tem uma ideia legal, com uma fotografia boa e locação boa, mas de produção mesmo não tem mil coisas. Não tem como explicar meu estilo, mas o sempre é menos mais pra mim. Acho que isso vem do design, eu gosto do simples.

simoninha

max de castro

the kills

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6 Comments on “Fotógrafo: Rafael Kent

  1. Parabéns ao André Felipe de Medeiros pela condução da entrevista e pela acurácia na transcrição das respostas do entrevistado. Para quem conhece o Rafael, deu para imaginar as caras que ele fazia durante a entrevista. Muito bom.

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  3. Sensacional, a entrevista. A transcrição tá ótima, mesmo, e as fotos tão demais. Ponto pro Pave!

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